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A 3ª Onda (2022)

Bárbara Santos dos Anjos 

Mulher, 43 anos, preta, casada, com filhos (21 e 11 anos), possui nível médio completo, vendedora, autônoma, não relata possuir comorbidades. Realizou tratamento para covid-19 em hospital público. Bárbara tem dificuldades em obter o diagnóstico de covid-19 buscando atendimento em pelo menos quatro unidades de pronto atendimento até receber o diagnóstico de covid-19 “desde o dia 14 que eu to indo pra UPAS e só dia 18 que eu vim ser encaixada pra covid.” Seus sintomas inespecíficos (febre, dor e inchaço nas articulações e falta de ar) foram atribuídos e tratados como casos de chikungunya e asma, antes de ser diagnosticada definitivamente com covid-19. Ela imagina ter se contaminado ao acompanhar a filha grávida até uma consulta de rotina no ambulatório do plano de saúde, onde alega que tinham vários casos de covid-19 aguardando atendimento também. Bárbara foi submetida a exames de imagem (raio X) que não sinalizaram nenhuma alteração, assim como também foi medicada com corticóides, havendo melhora do quadro num momento inicial, até quando nenhuma outra medicação conseguiu melhorar uma falta de ar persistente “eu vivia assim parecendo que eu não aguentava nem andar, muito mal de respiração, muito mal de respiração... nenhum remédio de asma dava jeito.” 

Após cursar com piora dos sintomas Bárbara foi regulada para um hospital de referência para o tratamento da covid-19 e o transporte entre a unidade onde estava internada e esse hospital lhe foi marcante devido à falta de oxigênio “até meu transporte pra lá pra o Couto Maia foi dificultoso, porque… eu passei por uma situação muito constrangedora, porque eu precisei de oxigênio e não tinha, eu fiquei sem ar por uns 3 minutos pensei que eu ia morrer”. Assim como muitas pessoas, Bárbara teve medo de ser entubada “Tem esse medo de ser intubado, porque todo mundo fala que... é um ditado, né? Que quem intuba morre, as pessoas falam sobre isso, ninguém quer, ninguém quer intubar, até as pessoas do hospital mesmo, fala que a intubação é algo de risco, então eu tive esse medo.” Bárbara só conseguiu se tranquilizar ao ser transferida para a enfermaria e perceber que a possibilidade de ser entubada se tornara uma realidade distante. Uma das estratégias adotadas por Bárbara para enfrentar essa situação foi a busca pela espiritualidade “Deus, ele ouve o pensamento… e eu falava com Deus, se eu tivesse um pouco de crédito com ele, que ele me deixasse voltar que eu queria ver minha família.” 

E por causa da evolução de seu quadro houve também dificuldades no desmame do oxigênio e ela atribui as tentativas frustradas a uma tentativa de economia pelo fato de estar sendo assistida pelo sistema público de saúde “O doutor queria tirar o oxigênio de mim antes da hora... ele: ‘não, você já pode’, eu disse: ‘o senhor vai me matar, doutor’... eu observei que as pessoas no hospital particular ficava muito tempo com isso, lá fora, qualquer besteira tava com oxigênio. E a gente aqui da classe C, quando vai para hospital público, o oxigênio, eles não gostavam de deixar a gente usar muito o oxigênio.” 

Apesar das experiências negativas durante a internação, durante a narrativa, Bárbara rende elogios à instituição onde ficou internada, salientando a qualidade da estrutura, da alimentação, das acomodações e da equipe assistencial.

Quando ela recebe a notícia da alta, toda sua família fica muito feliz e apesar da orientação de manter-se isolada por mais alguns dias, ela é recebida em casa com festa. Após a internação, Bárbara sente alguns desconfortos em casa, falta de ar, e por sentir melhora após uso dexametasona em uma de suas idas à UPA, antes do diagnóstico de covid-19, passa a fazer uso de dexametasona em casa por cona própria ao sentir sensações ruins “às vezes, vinha em mim aquela... parecendo que eu tava sem ar, não sei era uma ansiedade que, às vezes, esse negócio é psicológico, aí eu pegava a dexametasona e tomava [risos], pra ver e parava… Resolvia que eu me sentia melhor, [riso] eu sentia melhora...”.

Bárbara aponta mudanças em seus sentimentos após o adoecimento por covid-19, apontando se sentir mais tocada e frágil diante de algumas situações como escutar música, ouvir uma palavra (pregação) ou algo semelhante. Também sinaliza que, após ter passado pela internação, passou a dar mais valor a cuidados preventivos, assim como também acha que o adoecimento mudou a visão de muitas pessoas que anteriormente zombaram da doença. E apesar de ter enfrentado dificuldades nos dias logo após a alta (dificuldade de se locomover, de realizar afazeres sozinha) ela não ficou com sequelas da doença, também não enfrentou problemas de autoestima, aspectos que credita à força da sua fé em Deus.