2a Onda (novembro/2020 a abril/2021)

Temas: APS

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A segunda onda foi descrita temporalmente como o período compreendido entre os meses de novembro de 2020 a janeiro de 2021. Caracterizada por ter sido a mais longa e mais letal, visto que terminou com o triplo de mortos em relação à primeira. No Rio de Janeiro, foi marcada por um aumento exponencial no número de atendimentos, início da oferta ampla de testes e, concomitante, início da campanha de imunização, o que na prática teve repercussões importantes na rotina da APS carioca, levando ao esgotamento dos serviços. A realidade enfrentada nas CF foi descrita como assustadora, em que os profissionais de saúde se viram sobrecarregados, atendendo um número de pacientes muito acima do que estavam acostumados. Um enorme desgaste físico e emocional nos profissionais é narrado por um médico da AP 3.3. A necessidade de chamar várias ambulâncias em um único dia, algo que antes acontecia raramente, evidenciou a gravidade da situação. O início do ano de 2021 continuou na mesma linha, com a chegada da vacina trazendo um pouco de esperança, mas sem reduzir imediatamente a pressão sobre os serviços de saúde. 

"No final do ano passado, a gente viveu uma onda importante, porque desde o começo da pandemia, apesar da gente ter passado por muitos momentos assim de muitos atendimentos, novembro foi um mês assim, final de novembro e início de dezembro [2020] foi um mês assustador assim para a gente, porque mesmo no período mais crítico do começo da pandemia, a gente não tinha vivido o que a gente viveu em novembro. Foi uma elevação da quantidade de atendimentos, a gente passou a atender mais do que o dobro de pessoas que a gente atendeu na pior fase da pandemia no início. Então, novembro do ano passado foi um mês assim bem difícil, novembro, dezembro, fim do ano, foi um fim do ano bem difícil. A gente já entrou janeiro na mesma batida assim, esse ano [2021] foi até pior do que o ano passado em relação ao número de atendimentos, mas aí vem a vacina" (MFC Márcio).

 

"Essa reflexão chegou muito em novembro do ano passado [2020] que, foi assim, cara, quando a gente achou que foi o pior, o pior momento da pandemia que foi abril e maio, você tava assim meio que deu aquele negócio, assim, “caramba, como é que a gente vai dar conta disso!”, mas quando chega novembro, a gente vê o triplo de casos, e aí eu falo assim “então aquele momento inicial não foi o pior!” Realmente o final do ano passado e o início desse ano, e aí chega a campanha de vacina e os casos de COVID não dão refresco... é, de fato, para mim foi pior. E não foi por uma questão de organização, foi eu acho que por uma questão de saturação do serviço. Sim, já não tinha mais como ofertar acesso para algumas pessoas assim ou então para a gente ofertar o acesso que a gente conseguiu ofertar a gente teve um custo alto para gente assim enquanto profissional que foi muito desgastante atender assim 50 pessoas em um turno, 60 pessoas no turno. Foi bem difícil, por exemplo, uma segunda-feira que eu precisei chamar 8 ambulâncias, isso é uma coisa que para a gente, eu não chamo 8 ambulâncias em um mês!" (MFC Márcio).

 

"Quando a gente começou a testar em massa, primeiro com PCR, depois com teste rápido antígeno, a gente começou a ter um volume muito maior de pessoas com sintomas. E aí, aumentou de volume, mas os pacientes não chegavam tão graves, porque quem que antigamente chegava era quem ou já tinha testado em casa e na farmácia e laboratório e precisava de um atestado, um afastamento ou quem já tava com muita gravidade. Então, a gente começou, lógico que a gente recebeu muito paciente com muita gravidade, teve alguns pacientes que a gente regulou e vieram a óbito. Mas aumentou muito o volume quando a gente começou a ofertar testagem. E é engraçado que a gente teve casos assim de paciente com plano de saúde, usuário da vida inteira do sistema suplementar que tava com dificuldade de conseguir teste nos laboratórios, daí vinha para a unidade, que a gente estava fazendo teste rápido antígeno que sai na hora o resultado. Então, a gente começou a receber esse público também que não usava o nosso serviço, mas que no boca-a-boca sabia que na Clínica da Família tava testando. Isso aumentou ainda mais o volume de pessoas a serem atendidas e ainda tava no trabalho de unidade pequena. Tava com déficit de profissionais, então tinha essa sobrecarga extra. [...] tinha um momento que eu, como médica, tinha que atender, notificar, testar, orientar e ainda atender as demandas da unidade. Ficava uma loucura!" (MFC Caroline Oka).

 

A disponibilidade de testes rápidos atraiu um número muito maior de pessoas, incluindo aquelas com sintomas leves. A testagem em massa também trouxe um novo público: pacientes de planos de saúde começaram a buscar os serviços das unidades públicas. Esse aumento no volume de atendimentos, combinado com a redução em algumas equipes, resultou em uma sobrecarga ainda maior, já que muitos profissionais se viram atuando em múltiplas funções.

 "Nessa segunda onda do meio do ano, quando a gente teve um grande volume de casos e aí pelo esgotamento da rede, essa insegurança de não ter vaga. Se precisasse internar a gente não ter a estrutura, de não ter balão de oxigênio, “balão de oxigênio está acabando” tem que chegar mais, foi bem complicado" (MFC Caroline Oka).

 

Alguns profissionais observaram uma mudança significativa no perfil dos pacientes durante a segunda onda da pandemia. Ao contrário do início, quando os idosos eram a maioria dos atendimentos, naquele momento os pacientes eram majoritariamente jovens, na faixa dos 30 a 40 anos. Essa mudança de padrão dos pacientes indicou uma adaptação à nova realidade da pandemia, mas também exigia que os profissionais de saúde se ajustassem continuamente às novas dinâmicas e desafios apresentados por essa crise prolongada.

"Esse quadro melhorou um pouco já na segunda onda, as pessoas já não estavam dessa forma. Elas “ah estou com COVID, comecei com uma gripe, uma coriza…” E vinham. Não foi uma coisa assim que você observava as pessoas muito temerosas, não sei se porque já tinham algum tempo de pandemia, e as pessoas já estavam sabendo mais ou menos da situação, mesmo vendo a quantidade de óbitos e tudo. Mas você via mais as pessoas mais jovens, nos seus 30/40 anos, não tinha mais tantos idosos, como vimos no começo. E as pessoas não estavam tão abaladas assim, como no começo. Tinha gente, mas não era assim como no começo. Era algo assim mais natural. E família, a gente recebia famílias: mãe, pai, tia, tio, todo mundo chegando para fazer a avaliação" (ENF Maria Aparecida).