Decidindo fazer ou não o transplante

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A decisão de realizar um transplante cardíaco é uma das mais difíceis que um paciente pode enfrentar. Para muitos, não se trata apenas de uma escolha médica, mas de uma batalha emocional e psicológica. A vivência de risco, o medo do desconhecido, as incertezas sobre a recuperação e a própria aceitação de que precisam de um novo coração, um coração de outra pessoa, tornam essa jornada extremamente desafiadora.

Para alguns pacientes, o choque da indicação e a necessidade urgente do transplante impedem um período adequado de reflexão. Como Andrea Andrade relatou:

"Faz transplante, continua doente, toma remédio? Aí ele disse: 'Não tem pra quê eu fazer transplante.' Na visão dele é essa. Mas é... Porque ele teve um tempo de pensar. Eu não tive tempo de pensar. Eu, chegou e aconteceu. Tá entendendo? Talvez eu não poderia tá aqui conversando se eu não tivesse recebido o coração."

 

Esse depoimento revela como o tempo para processar a situação pode influenciar a decisão, e como, para alguns, o transplante se torna uma imposição pela urgência médica.

O medo também desempenha um papel crucial. Muitos pacientes têm exemplos de outras pessoas que passaram pelo processo e estão enfrentando complicações, ou mesmo pessoas que não tiveram desfechos positivos, como nos relata Auricélia Andrade:

"Aí eu disse: 'Não quero transplantar.' Eu batia o pé e dizia: 'Não quero.' Dr. Rodrigo chegava para mim, dizia: 'Auricélia, se chegar o seu dia, você vai fazer.' Eu dizia: 'Vou nada, Dr. Rodrigo! Você não tá vendo a situação de Andrea, não?'"

 

Aqui, o medo do desconhecido e o impacto de experiências negativas com outras pessoas reforçam a resistência ao procedimento.

No entanto, há momentos em que encontram forças em suas famílias e nos laços afetivos que os mantêm firmes na decisão.

"Até hoje, essa cena nunca sai de dentro de mim. Eu acho que minha força maior pra fazer o transplante foi a minha neta."

 

O amor e a responsabilidade para com os entes queridos se tornam a motivação principal para enfrentar o procedimento e a recuperação.

A falta de informação sobre o procedimento também contribui para o medo que impede alguns de aceitarem o transplante. A troca de informação entre médico e paciente é um passo fundamental no processo de escolha. Assim vemos no relato de Elindinaldo:

“Fiquei com medo da cirurgia. Como, assim, um transplante é uma coisa muito grave... Aí foi conversando, explicando, amostrando que, na verdade, todas as cirurgias são graves. [...] Aí foi que eu vim conseguir ir aceitando aos poucos e pegando confiança.”

 

A decisão pelo transplante cardíaco é marcada por ambivalências, medos, e mudanças de perspectiva e de mentalidade, influenciada tanto pela relação médico-paciente quanto pelo desgaste emocional e físico da doença e pela percepção da finitude da vida, o que concluímos com a história de Andressa:

"Olha Andressa, você quer fazer o transplante?' Eu disse: não. Aí ele disse: 'Mas por quê?' Porque tem tanta gente que morre esperando. Eu fiz [disse]: quando é que vai chegar meu transplante, doutor? [...] Se eu não fizer, eu morro, se eu fizer, eu morro, que seja o que Deus quiser. [...] Eu tô sendo forte por ela [mãe], porque eu já desisti de mim. Porque hoje eu tô assim, hoje eu tô, hoje eu tô bem, amanhã eu não tô. Chega um momento que você desiste de você."

 

Por outro lado, assim como diz Duarte, as complicações e dores de se conviver com a doença grave podem ser um fator de estímulo para aceitação:

“Aí eu fui em casa, e quando foi nessa mesma noite, desse mesmo dia, aí passei mal. Passei mal, a falta de ar e fui para o hospital [...] Aí quando foi no outro dia. Aí eu cheguei lá no hospital com Dr. Vitor e disse: "Dr. Vitor, aquele negócio de ir lá de Recife tá de pé?", ele disse: "tá, na hora que tu quiser ir, Duarte, pode ver aí". "Doutor, eu quero. Ontem eu passei mal, aí eu quero.”

 

Essa fala de Danilo resume o dilema enfrentado por muitos: a escolha entre o risco do procedimento e a certeza da morte sem ele. Para alguns, a fé desempenha um papel essencial na aceitação da cirurgia e de seu desfecho, seja ele qual for. Ela pode ser uma fonte de conforto e também de esperança em relação ao procedimento.

“...pedi a Deus uma luz, aí ele me deu. Disse, veio aquele negócio, estalo, eu deitado no sofá: “faça, faça, faça o transplante”.

 

Quando o sofrimento se prolonga, a esperança começa a se esvair, e a única motivação que resta pode ser o desejo de continuar vivendo por alguém que se ama.

O impacto positivo de ver outras pessoas se recuperando pode ser um incentivo poderoso para aceitar o procedimento, assim como nos relatou Carlos Alberto:

"Aí eu fui aliviando e vendo, e vendo o povo chegava doente com uns sete dia, quinze dia já tava, assim, de alta, né? Eu fiquei assustado e ao mesmo tempo foi normalizando as coisas."

 

Jeová nos mostra que isso ajuda pacientes a superarem o medo e aceitarem o transplante como mais do que uma cirurgia, mas como uma nova chance de vida:

“Perguntou se eu queria ir para a fila de transplante e eu falei que sim. Essa coisa. A partir de agora nós vamos começar outra nova história.”

 

A decisão de realizar um transplante cardíaco é permeada por medo, incertezas, amor e fé. Cada paciente enfrenta esse momento de forma única, e os desafios não terminam após a cirurgia. A recuperação exige comprometimento, acompanhamento rigoroso e a aceitação de uma nova realidade. No entanto, para muitos, essa escolha representa a única chance de continuar vivendo, de seguir ao lado de seus familiares e de reescrever sua história.