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A campanha de imunização contra a covid-19 se iniciou na cidade do Rio de Janeiro em 20 de janeiro de 2021, data simbólica e festiva para a cidade, por ser feriado municipal pelo dia do seu santo padroeiro São Sebastião. Nesta data, foram vacinados os profissionais de saúde em suas unidades de atuação e os idosos de instituições de longa permanência dos territórios. Alvo de uma corrida política, o início da campanha marca o primeiro grande ato da nova administração pública municipal, após as eleições de outubro de 2020. Dada a inexistência de insumos para vacinar toda a população e com o objetivo de organizar os processos de trabalho, a campanha foi organizada em algumas fases, inicialmente com critério por idade. Posteriormente, para o público abaixo de 60 anos, foi utilizado o critério de comorbidade e/ou categorias profissionais escalonado por idade.
A chegada da vacina contra a covid-19 simbolizou um momento de esperança e alívio, entre outras emoções narradas pelos profissionais de saúde ao serem vacinados. As lágrimas e os sorrisos durante a vacinação em 20 de janeiro de 2021 marcaram um evento inédito e altamente significativo. Este dia especial, foi um ponto de virada, trazendo um sentimento de vitória e gratidão, após meses de exaustão e desafios intensos. Para muitos, a vacinação foi mais do que um procedimento, foi um símbolo de resistência e de um passo crucial na luta contra a pandemia.
Esperança, entendeu? Tanto que na primeira dose teve pessoas lá do trabalho que choraram, ficaram emocionados [...] a vacina foi a esperança e olhando assim o que a gente passou, foi muito gratificante, claro, foi cansativo, exaustivo, mas olhando tudo que a gente fez, valeu muito a pena (ACS Leticia).
Foi feriado, foi dia 20 de janeiro, não esqueço. E aí a gente teve que ir pro trabalho, todos os funcionários, até porque a galera que tinha alguma comorbidade foi afastada. Eles ficaram afastados quase um ano. Então os que estavam aqui tiveram que segurar tudo. E aí eles tiveram que vir também, dia 20 a gente fez, veio todo mundo e foi todo mundo vacinado, um momento assim inédito pra todo mundo. Todo mundo tirou foto, teve gente que chorou, gente que se arrepiou porque era uma coisa muito complicada. E assim que a vacina chegou foi muito... um alívio pra todo mundo (ACS Raquel).
A vacinação dos profissionais de saúde começou dia 20 de janeiro. Eu lembro que era feriado. Aí todo mundo tinha que ir para Unidade, a Unidade estaria aberta só para os profissionais de saúde para eles se vacinarem (MFC Átila).
[...] Emocionante a gente receber aquela vacina... lembro, assim, quando eu recebi a primeira dose, a sensação de alívio que deu no peito (MFC Caroline Oka).
Uma MFC da AP 4.0 destacou que a vacinação não era apenas uma dose de proteção física, mas também uma dose de esperança e conforto emocional. O ato de vacinar e ser vacinado se tornou um evento histórico, capturado em fotos e vídeos, com a percepção de estar vivendo um momento que seria lembrado no futuro.
[...] Foi um momento de alívio, de alegria. [...] Era um olhar de alívio e de compartilhar uma conquista, porque a gente… a gente passou por momentos muito tensos até a vacina chegar, [...] Eu acho que a dose, não foi só a dose da vacina, foi uma dose de esperança também. Acho que veio como… como um acalento, uma esperança, um alívio, de que a gente pudesse superar de alguma maneira ou de atenuar aquela situação de medo que a gente estava vivendo. Então eu lembro que foi um momento marcante, a gente tirava foto, todo mundo pedia para filmar. Foi histórico! Eu senti isso: como se você estivesse vivendo uma história que vai ser contada lá para frente (MFC Amanda Barbosa).
Acho que a vacina todo mundo esperava, mas ao mesmo tempo, todo mundo ficava “aí, será que é isso mesmo?” “Será que tem algum evento, algum efeito colateral?” Mas era uma coisa que a gente tinha esperança de sair. Porque a gente parou a nossa vida, a gente não podia fazer nada, nada. [...] ser vacinada como profissional de saúde para mim assim foi um privilégio, porque foi a primeira, a primeira classe assim, de profissionais de saúde a serem vacinadas depois de tantas mortes que a gente teve nesse período. Eu acho que foi uma coisa que trazia mais ainda o sentimento de gratidão mesmo, por estar ali e estar conseguindo vivenciar esse momento, coisa que muita gente não conseguiu (ENF Bruna Saldanha).
Alguns profissionais expressaram a dualidade de sentimentos, onde a vacinação trouxe tanto a sensação de ser cobaia quanto a de responsabilidade de ser um exemplo. A chegada da vacina foi vista como uma grande vitória, trazendo uma dose de esperança e alívio para superar a situação de medo da doença e suas potenciais complicações.
[...] foi uma expectativa de esperança, mesmo a maioria da população não acreditando, falando "você vai ser cobaia, você vai ser isso, você vai ser aquilo", então assim, eu acho que não só para mim, mas para todo profissional da área da saúde, foi uma vitória, mas não uma vitória pequena, mas uma vitória grande (ACS Everson).
[...] a gente ser os primeiros a ter que tomar, é sentir, ao mesmo tempo, como cobaias e ao mesmo tempo sentir a gente como exemplo. Então, assim, eu tinha que ser um exemplo da minha família (ACS Daiane).
Foi um suspiro de alívio, porque, apesar de tudo que a gente recebia de comunicação negativa em relação à vacina e com relação à propaganda negativa que era feita em relação à vacina, às fake news, às falas sobre uma vacina que foi feita tão rápida, já que geralmente elas levam décadas para serem realizadas, elas não iam ser efetivas. Qualquer pessoa que tenha um embasamento do conhecimento na cientificidade e perceba o esforço mundial que foi feito para a realização da vacina, percebia que não ia ser só... não existia a possibilidade de darem um placebo para a gente mundialmente falando, não consigo ter essas teorias da conspiração! E foi um alívio, foi um alívio grande, que imediatamente após trouxe um desgaste emocional e físico principalmente (ENF Kátia Brito).
Importante o destaque para a dimensão da campanha de imunização em que foi necessária grande energia por parte dos profissionais, por conta da extensão do horário de funcionamento das unidades. Durante os primeiros oito meses de 2021, as unidades da atenção primária carioca abriram de forma ininterrupta aos sábados e feriados. Além disso, as diferentes etapas vieram acompanhadas de diferentes experiências: do agradecimento inicial aos conflitos entre profissionais e usuários. Estes ocorreram pelas mais diversas causas desde pela remessa pequena de doses, até devido às atualizações diárias das orientações pela SMS-RJ.
Na época da vacina, aqui foi um momento muito feliz, assim, para os profissionais, para os pacientes, principalmente na primeira fase da vacina quando o critério bem definido, que era a questão da idade, as pessoas vinham, agradeciam. Era uma fase assim de felicidade para os profissionais que eu achei bem bacana. Isso trouxe bastante valorização assim para os profissionais da atenção primária, a campanha de vacina, acho que, a gente também fez bastante força para funcionar e isso sem dúvidas foi exaustivo, a gente abriu no feriado, sábado, só não abriu domingo, mas a gente estava numa fase assim bastante empolgada, fazendo diferença, sentindo que a gente tava fazendo diferença. [...] às vezes eu dava uma orientação pela manhã e à tarde aquela orientação que eu dei de manhã ela já não estava valendo. Pacientes ficavam irritados, porque tinha vindo um dia eu tinha falado uma coisa aí no outro dia é outra (MFC Marcio).
[...] outro momento que foi tenso, quando iniciou a vacinação, a gente começou a receber muito pouco. A gente começou a receber as vacinas, mas em uma quantidade muito pouca. E no início como a gente vacinava os idosos, começou com a população acima de 90, depois acima de 80… A população vem muito procurar vacina e aí quando a gente vacinava, na época era com a Coronavac, frasco multidoses, de 10 doses, ele depois de aberto tem a validade de 8 horas. Então, se você abre um frasco no final do dia, você não pode aproveitar ele para o dia seguinte (ENF Leônidas).
[...] momentos de tensão e de conflitos que também aconteciam ali. Até porque muitas dúvidas, muitas perguntas, muitos questionamentos. [...] os profissionais ficavam até tensos, eu acho, na hora de acertar a vacina, porque você tinha que falar tudo com muita cautela e era aquela mesma fala que repetia por muitas vezes, eram muitas doses aplicadas (MFC Amanda Barbosa).
Às vezes demorava cinco minutinhos para abrir e eu estava terminando de organizar. As pessoas já começavam a falar, falar, falar. No começo foi insuportável a vacina. Já dava dor de cabeça só de você chegar lá na vacina, e saber que seria um estresse (ENF Bruna Campos).
E com a vacina a unidade ficou superlotada, muito cheio e muita confusão. Nossa! É uma loucura! Um desgaste, todo dia a gente pergunta quando é que isso vai melhorar, porque a equipe trabalha, só não trabalha domingo. Tem uma escala, de segunda a sábado. [...] No começo da vacina a gente trabalhou no Carnaval, todos os feriados. Carnaval, todos os feriados, toda a equipe trabalhando (ENF Maria Aparecida).
Para muitos profissionais, como duas MFC da AP 2.2 e 4.0, a vacinação marcou um ponto alto em suas carreiras, trazendo uma mistura de emoções e um sentimento de realização. O envolvimento intenso com a campanha de vacinação afetou profundamente suas vidas pessoais e profissionais, sendo momento de grande satisfação. A participação na vacinação de pacientes restritos ao leito e em locais de longa permanência mostrou a dedicação em garantir que todos tivessem acesso à proteção contra a COVID-19, reforçando o compromisso com a saúde da comunidade.
A gente participou da vacina, principalmente indo até a casa dos pacientes que estavam restritos ao leito, dos acamados. Nos locais de longa permanência, a gente teve um sábado direcionado para isso (MFC Amanda Barbosa).
A vacina, para mim, eu acho que quando eu fui vacinada foi uma das coisas mais emocionantes que eu já vivi dentro da minha profissão, porque isso fez parte da nossa vivência profissional isso tudo. Não só nosso autocuidado em saúde. Não sei, foi muito emocionante o dia e os dias antes. Eu lembro “vai aprovar? não vai?” Pode vacinar ou não pode? Quando vai ser? Aqueles dias antes foi muito… muito excitante. Uma ansiedade gostosa, caramba está chegando (MFC Julia Horita).
[...] o nosso papel como agente comunitário de saúde é levar essa informação, para que eles não deixem de se cuidar, de se imunizar devido a essa falta. E isso aqui é uma questão de incentivá-los. Tanto a gente mesmo fazendo o nosso papel, tomando a vacinação, incentivando, mostrando, dando a devida informação, porque todo dia muda alguma coisa, como também incentivando eles a se imunizar. E tem também a questão de não dar para ir a Unidade, a gente vê outros meios, junto com a equipe técnica, de levar essa vacinação para esses pacientes (ACS Thais).
A participação de diferentes categorias profissionais na campanha de vacinação repercutiu em ajustes nos processos de trabalho das unidades básicas. Houve sobrecarga aos profissionais em diferentes frentes: tanto nos pontos de vacinação, quanto no atendimento à síndrome gripal e outros serviços ofertados.
[...] a enfermagem foi muito deslocada de participar de um consultório, de estar em VD e outros setores também, para ficar deslocada para vacina. Elas começaram a fazer muita hora extra, porque às vezes sábado tinha um dia D que precisava um monte de enfermeira. Então isso foi sobrecarregando um pouco mais assim os médicos das unidades. Com relação aos médicos, a gente participa pouco do processo de vacinação. A gente acaba fazendo mais a vacinação do território, vacinação de acamado, em VD, porque elas ficam tão dentro da Unidade que não consegue sair da Unidade (MFC Átila).
[...] a gestão, em alguns momentos, tenta direcionar toda a força de trabalho para a vacina, quando isso não era tão necessario assim. Eu entendo, a intenção é boa, mas eu acho que acabou prejudicando outras coisas e estamos sofrendo as consequências disso agora. Eu acho que houve um impacto. Eu acho que agora a gente está conseguindo se reorganizar [nov 2021]. Tentar voltar o mais normal possível, dentro do consultório" (MFC Julia Horita).
O ano de 2021 para nós da equipe de enfermagem foi um aperto. Chegou a vacina. Uma confusão muito grande e, assim, realmente a gente saiu da sala, da sala zero. Mas os atendimentos continuaram. Não tão altos quanto antes, mas continuaram às vezes 20, 30, 40 por turno, ter muito movimento. Normalmente esse movimento, nesses meses, eram na segunda-feira. Segunda-feira, quando a gente chegava para trabalhar, você não conseguia passar no corredor. [...] Vacinar toda essa população e tanto questionamento, tanta coisa, nossa senhora! Muito dificil. Tá sendo até hoje muito difícil! Cada hora uma orientação diferente, até mesmo no atendimento do covid (ENF Maria Aparecida).
A logística da vacinação apresentou muitos desafios, como descrito por alguns enfermeiros. A gestão do estoque de vacinas, o monitoramento rigoroso da temperatura e a organização das escalas de atendimento exigiram um nível de organização e adaptação sem precedentes. A necessidade de evitar desperdícios de vacinas, planejar estratégias diárias e lidar com a pressão constante foi uma tarefa monumental. A constante mudança de orientações, muitas vezes comunicadas pela mídia antes dos profissionais, adicionou uma camada extra de complexidade e estresse ao processo.
A resiliência e dedicação dos profissionais de saúde foram fundamentais para o sucesso da campanha de vacinação. As narrativas mostram a capacidade de adaptação, o compromisso com a saúde pública e a superação dos desafios diários. A participação ativa na vacinação, muitas vezes em condições adversas e sob intensa pressão, destacou o papel vital desses profissionais na luta contra a pandemia. A experiência de vacinar a população e enfrentar os desafios associados fortaleceu a determinação de continuar a luta.
No início era Coronavac, depois chegou Astrazeneca, depois a Jansen, depois a Pfizer… Se você for pensar, hoje você tem no posto de vacina de covid, você tem seis imunizantes diferentes, contando com a Coronavac e a Pfizer infantil, [...] você tem praticamente uma outra sala de imunização voltada para o covid, com as suas particularidades da vacinação de criança que tem que ser a mesma dose da primeira e da segunda. Desculpa, sempre acabo falando muito nisso porque é uma preocupação recorrente [...] tem que evitar o máximo sempre qualquer erro de imunização (ENF Leônidas).
[...] eu falo que a vacina pro covid, ela não tem nada parecido com nenhuma outra campanha antes. Eu sou enfermeira de sala de vacina há quatro anos. E eu não me estresso nem metade do que eu me estressei na campanha da covid. Muita pressão, assim, entendo, a gente também tem que ser um pouco crítico e eu acredito que foi organizada assim por quem idealizou e planejou, quem fez toda essa parte de organizar um serviço para fazer as coisas teve a preocupação de fazer uma coisa boa e que funcionou por muito tempo. Mas, a gente se viu obrigado a fazer muitos arranjos adaptados nas unidades para fazer isso dar certo[...] não pode sobrar vacina. Isso foi uma coisa que deixou a gente muito pilhado. Não pode sobrar vacina de jeito nenhum, e realmente eu concordo que não pode. Então, você se vê todos os dias planejando novas estratégias para não sobrar. Só que às vezes sobra. As vezes a gente se via pegando mototáxi, pegando o Uber, correndo para dentro do território com cooler, [...] Não pode sobrar, não pode jogar fora. Sabe, isso provocou na gente muito estresse durante muito tempo, a gente elaborou muitas estratégias. [...] A prestação de contas da vacina também é bastante estressante. Os estoques… entendo que a gente está em um país que a coisa é difícil. Existe roubo. Vacina é uma coisa muito cara, então a prestação de conta é pesada mesmo, mas é muito mais pesada do que naturalmente é. Eu sei que a cobrança é muita, porque imunobiológico é uma coisa muito delicada, então tem questão da temperatura, da distribuição. Está estressante não só para a gente na ponta, mas a gente percebe que para os serviços de vigilância também está bem estressante (ENF Debora).
[...] a vacinação é algo que naturalmente ela já é envolta de muita atenção, de muito cuidado e protocolo por conta da quantidade de erro mesmo. A administração, geralmente era mais de uma vacina, não é que nem agora, que você vai lá só tem uma vacina, é a Pfizer bivalente que vai ser para todo mundo vacinar. Eram várias vacinas diferentes, que precisavam de diluição, precisavam monitoramento constante de conservação do frasco, que eram seis horas, que tinha que ter atenção na quantidade de diluição para cada uma delas, o tipo de, a dosagem das vacinas eram diferentes, algumas eram 0,3, outras eram 0,5. E isso foi outro ponto de desgaste mental e físico durante o processo de pandemia na minha profissão. Porque era uma demanda muito grande de pessoas todos os dias. [...] o dia que a gente vacinava menos, a gente vacinava 1.500 pessoas. E aí é um processo que demanda muita organização, a gente precisava chegar mais cedo do que o horário de trabalho para organizar os postos, organizar as caixas de vacinação. [...] ficar o tempo inteiro monitorando temperatura de caixa, avaliação de reação vacinal, notificação, solicitação de insumos, organização de pessoal, escala de atendimento, escala de almoço, absolutamente tudo, era algo que trazia muita tensão, era muito desgastante. as pessoas às vezes iam lá simplesmente, porque a vacina na época era obrigatória para precisar sair do país, então iam de um jeito a muito contragosto e acabavam depositando na gente como profissionais de saúde, as frustrações deles por não quererem a vacina justamente por essa contaminação de informações falsas (ENF Kátia Brito).
[...] todo dia saíam as normas diferentes e tinha que ficar de olho toda hora, porque às vezes agora era uma coisa, que há dez minutos já não era, era outra coisa. E, às vezes, saía na mídia antes de sair para a gente. Aí tinha esse desencontro de informações. [...] Toda hora a mídia estava lá. No meu posto, a mídia estava quase todo dia. Você trabalhava ainda sob a pressão das pessoas e a mídia em cima de você ainda. [...] Às vezes botavam a luz na minha cara tão forte que eu não conseguia nem enxergar direito. Aí tinha essa questão também da mídia que atrapalhava (ENF Bruna Campos).
[...] foi um desgaste também muito grande, porque era uma briga. [...]. A primeira vacina que a gente recebeu foi a Coronavac, e aí a gente começou com critério de idade, então as pessoas mais idosas para as pessoas mais novas. E a gente seguia o calendário do município do Rio. Eu acho que nesse momento das pessoas mais idosas, 90 anos ou mais, 80 anos ou mais, a gente não teve um grande estresse. Eu acho que o estresse começou a ser com os 60 e pouquinho. No meio disso, os critérios foram mudando. Era fator idade, aí depois comorbidade, e aí eles mudavam de novo e a gente ficou nesse indo e vindo novamente e muitas vezes a população não compreendia. E aí a gente tinha às vezes na faixa etária de 60 anos, sobrava vacina, as pessoas faziam fila para aguardar o que sobrou de vacina, que eles caracterizam como xepa, para ver se eles conseguiam tomar. E aí também foi uma parte do desgaste que a gente tinha, porque o nosso posto de vacinação ele fechava às 17 horas. Às vezes eram 15h da tarde e a gente já tinha fila de pessoas que não eram daquela faixa etária, mas que estavam ali aguardando esse resto da vacinação. E isso foi desgastante também até para a gente como profissional. [...] foi bastante desgastante no sentido de lidar com o público e ter que explicar que não era você que estava criando as regras, existe alguém superior que cria e a gente tem que seguir. [...] um desgaste às vezes até com ofensas da população para a gente com palavras de baixo calão, enfim, porque a gente não podia vacinar, porque ela não estava naquele critério. [...] a gente até pediu na época o apoio dos médicos, de alguns médicos que a gente tem na Unidade, para poder ajudar nessa vacina, porque a gente também não tinha profissional de enfermagem suficiente (ENF Bruna Saldanha).
A luta contra a desinformação foi outro grande desafio. Fake news e teorias da conspiração sobre a vacina geraram desconfiança e hesitação entre a população, colocando os profissionais de saúde na linha de frente para combater esses mitos. A educação e a comunicação correta se tornaram cruciais para incentivar a vacinação. Enfrentar a resistência e as reações negativas do público foi desgastante, mas também reforçou a importância do papel dos profissionais de saúde na promoção da ciência e da saúde pública.
Em meio a escala da gente, como agente comunitária de saúde na escala da vacinação, a gente presenciava bastante, tanto pessoas que apoiavam, que falavam parabéns pelo trabalho de vocês, parabéns, viva a ciência, como pessoas que recusavam, que falavam que não iriam tomar, pessoas que questionavam, mesmo a gente dando a devida informação, a informação correta, para que eles compreendessem qual o objetivo da vacina essa recusa (ACS Thais).
Uma MFC da AP 2.1 destacou a importância crucial da ciência e da vacinação para evitar o retorno de doenças erradicadas, como a poliomielite e a meningite. O sucesso da campanha de vacinação contra a covid-19 ressaltou a eficácia da ciência e a necessidade de manter altos índices de cobertura vacinal. Já outra MFC da AP 2.2 expressou orgulho no sistema público de saúde e na capacidade do SUS de responder eficazmente, apesar das adversidades e das forças contrárias. A campanha de vacinação renovou a fé no sistema de saúde e demonstrou a importância de um esforço coordenado e baseado na ciência.
[...] o maior impacto é em relação à ciência, à vacinação. É muito triste de arrepiar, na verdade, Covid está acabando, a gente está vacinando, que bom, mas, polio, relatos de retorno de polio no Brasil, desde o final dos anos 80, que não tinha o caso de polio, meningite, surto de meningite em São Paulo, aqui no Rio também[...] dá pra aprender da pandemia é que a ciência funciona. [...] A cobertura vacinal está superbaixa. O Brasil, antigamente, tinha aquela história, o programa de imunização do Brasil é lindo, mas as pessoas têm que se vacinar pra isso. Pra funcionar, tem que estar vacinando (MFC Clara Antunes).
Cada pessoa vacinada uma felicidade diferente, não só da minha família, mas ver aquela unidade cheia[...] eu fico tão feliz ainda mais um momento que a gente tem aí, um movimento antivacina, de fake news de vacina. Então, assim, ver que mesmo com tudo isso a gente tem sistema público de saúde, Universal e que está ali, dando conta do recado apesar dos pesares e apesar das forças contra é o motivo de muito orgulho de tá lá. Motivo de muito orgulho do SUS e muito emocionante (MFC Caroline Oka).