Problemas de saúde após o transplante

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O transplante cardíaco representa uma nova chance de vida, mas também marca o início de uma jornada complexa de adaptação e cuidados contínuos. Após o procedimento cirúrgico, os pacientes podem ter complicações as quais podem afetar significativamente sua qualidade de vida. Compreender essas possíveis intercorrências é fundamental para o manejo adequado do cuidado.

A rejeição do órgão transplantado é uma das complicações mais temidas no pós-transplante. Embora existam protocolos rigorosos de imunossupressão para preveni-la, ela pode ocorrer em diferentes momentos da recuperação, mesmo anos após o procedimento. Seus sintomas muitas vezes se assemelham aos apresentados antes do transplante, o que pode dificultar o reconhecimento imediato. No entanto, a identificação precoce desses sinais é fundamental para o controle do processo e a preservação da função do órgão. Claudia compartilha conosco a experiência da reação de rejeição.

Claudia: O tanto que também depois, não sei quanto tempo depois, três ou quatro anos depois do transplante, eu tive uma rejeição também. 

[Entrevistador: Como é que foi isso? Me conta.]

Claudia: É a mesma sensação do, do, de antes do transplante. É a falta de ar. É como se tivesse uma pressão no seu pescoço, sufocando. O coração... É assim que nem falam. O coração não dói, mas tem aquela sensação que ele dói, né? Então é aquela agonia, como se estivesse dando... furando. Aquela dor chata. É horrível. É uma dor que eu lembro que quando eu tive, foi até o doutor Rodrigo que me encontrou... Que minha menina que encontrou ele no elevador. Aí minha menina gritou: “Socorro, minha mãe tá morrendo!” A minha menina tinha mais noção do que eu, da minha situação. Aí foi quando ele olhou pra minha cara. Ele já disse logo, “tá tendo rejeição”. [...] Eu só lembro que eles me deram morfina, que estava lá morfina, que eu gritava muito, e pedia para ele me ajudar, que eu não estava aguentando de dor. Aí, ali eu fui apagando e não lembro mais nada.

 

Uma das complicações mais frequentes após o transplante cardíaco é o desenvolvimento de problemas renais, muitas vezes causados pelos medicamentos imunossupressores necessários para prevenir a rejeição do órgão transplantado. Essa situação pode levar à necessidade de hemodiálise e, em casos mais graves, a um transplante de rim.

Carlos Alberto: A causa... Hoje em dia, é esses remédios que eu tomo, né? Aceleraram. Eu já tinha um, já tinha um problemazinho no rim, mas que eu nunca senti, né? Aí o doutor mandou pro Dr. André. Falou: “Olha, Carlos, tem, tem só um, um negocinho crônico no teu rim.” Foi só assim que ele falou. Nem sabia do que se tratava. Mas hoje eu sei que é esse Tacrolimus e... [...] Porque eu tive uma rejeição no início.

 

Donizete: Hemodiálise, eu precisei ir para a hemodiálise. Como eu urino ainda, eu ainda tenho esperança de ele voltar ao normal, porque ele era um rim antigamente bom. Mas não sei, já vai para dois ou três meses. Mais de três meses da hemodiálise, mas tô urinando ainda. Então, como eu vim bem, eu tenho esperado ele normalizar. [...]. Dr. Rodrigo já me perguntou se eu queria fazer [transplante de rim]. Como eu falei, eu ainda tenho esperança dele voltar, mas também não posso ter esperança e passar o ano esperando, né? Porque se não voltar assim nos seis meses, eu acho que não vai voltar mais. Então é isso. Hoje, o caso é muito pessoal.

 

Pacientes transplantados enfrentam um risco aumentado de infecções, especialmente devido ao uso contínuo de medicamentos imunossupressores. No entanto, essa imunossupressão compromete as defesas do organismo, facilitando a reativação de infecções virais latentes e a aquisição de infecções oportunistas. Algumas dessas infecções podem evoluir de forma grave, exigindo intervenções rápidas, tratamentos específicos e monitoramento intensivo.

Donizete: Mas me surgiu uma rejeição um pouquinho acima do que é esperado, que é esperado uma rejeição, nesses casos. E aí foi tratado. A rejeição ficou sendo, foi controlada. Eu tive uma alta, mas aí eu precisei voltar que eu tinha, tinha surgido um vírus que é do nosso corpo mesmo, não sei o nome agora, que tem que tomar um remédio, um remédio chamado Gan. [...] Ganciclovir. Aí eu vinha no hospital dia, todo dia, uma vez por dia. E aí eu fiquei, no mesmo dia que eu fiquei internado de novo. Eles me chamaram porque tinha tido, apareceu alguma coisa no meu exame. Aí eles me ligaram para vir para cá. Aí eu vim. Nesse ínterim, eu peguei no hospital uma infecção de um fungo que vai para o pulmão, que é o pulmão. Foi uma, uma infecção dentro da enfermaria que outros pacientes pegaram e era uma infecção fatal. Foi-se quatro colegas na mesma situação, em seguida. 

 

Erianderson: Eu sofri muito, porque assim é... Cria uma secreção de pus do lado do coração. Água na pleura, né? Doía muito. Eu gritava na enfermaria, ou na UTI. Gritava mesmo. Chegou um momento que não teve mais jeito mesmo. Diretamente pra sala de cirurgia de novo. Era umas cinco horas da tarde. Só me lembro até aí. Quando me acordei de novo. [...] Aqui eu passei… Depois desse meu transplante, eu passei três meses no geral. Que realmente foi por causa dessa infecção que eu peguei. Aí só de 28 dias eu tomei uma, uns antibiótico fortíssimo. Eu fiquei bem escurão mesmo. E era secando uma bolsa e botando outra. Secando, botando outra. Uns antibiótico forte, forte mesmo. Na maca... O que fosse fazer, tinha que levar a maca. Se era pra banheiro, tomar um banho, tinha que estar com ela. Porque não poderia, não podia deixar de tomar, não. Depois disso aí pra cá, tenho o que falar não.

 

Alguns pacientes podem enfrentar perda de peso significativa e fragilidade física após o transplante, o que pode gerar preocupação para o paciente e para a equipe médica. Além disso, a redução da capacidade física pode afetar diretamente a habilidade dos pacientes de realizarem atividades cotidianas e profissionais.

Jonean: A gente tá em que? Outubro? Agosto! Agosto, eu comecei a perder peso, aí já não. Sem poder pegar nas grades. Hoje, eu não posso nem pegar numa vasilha direito. Pra quem pegava, botava em cima aí... Mas eu fiz um eco e o coração tá bom. Eu não canso. Tinha uma tossezinha, uma gripezinha, mas tô melhor. Mas o coração... Não canso, ando. Batia uma peladinha. Jogava mais, agora não jogo mais. Dei uma parada né? Por causa da hérnia também. [...] Tava com 79 kg e fazia meu serviço. Mas depois que essa magreza bateu em mim, eu fiquei triste. 

 

Andressa: Mas a gente não consegue fazer um trabalho pesado que a gente fazia antes, o senhor tá entendendo? Hoje em dia mesmo, eu faço faxina na minha casa, mas se eu não hoje eu limpar cozinha, arrumar a cozinha, passar uma faxina em cada cômodo da minha casa. Antigamente não, num dia só, eu fazia tudo, era eu, nem comia já, já caía pela noite e deixava a casa toda limpa. Eu hoje em dia eu já não aguento mais fazer isso. Hoje eu passo, limpo o banheiro, amanhã eu vou para o meu quarto e assim vai. Aí me diz, uma transplantada, que não consegue um emprego, vai fazer um serviço, vai trabalhar de empregada doméstica? Não tem como. Ela vai no limite dela. Mas não é fácil não.

 

No contexto do tratamento pós-transplante, muitos pacientes enfrentam dificuldades relacionadas aos medicamentos, seja pela indisponibilidade nas farmácias do Estado, seja pela adaptação aos efeitos colaterais. A dosagem e o tipo de remédio precisam ser ajustados individualmente, e é comum que sejam necessárias várias tentativas até se encontrar a combinação ideal para cada paciente.

José Alves: Meu remédio que eu tava tomando, eu fui pegar na farmácia do Estado e não tem. Aí ele falou, disse: “eu, como é que pode rapaz, a gente transplanta uma pessoa, o paciente, e deixa faltá”. Ficou meio coisado assim, disse: “Eu vou trocar sua medicação”. Trocou, trocou a minha medicação. Só que aí me mandou pra casa. Aí depois eu fiquei tomando a medicação, quando passou uns meses eu tava me sentindo um pouco diferente né, do que eu tava né. Um pouco diferente, eu tava me sentindo meio estranho, que a gente percebe quando tá bom ou quando qué, assim, ficá meio doente. Eu ficava mei, amanhecia de manhã, assim, eu não ficava muito disposto, eu ficava um pouco mei lento.

 

José Antônio Oliveira: Eu tenho problema do pé inchado, o pé inchou muito né. Dr. Rodrigo fez enaraplil. Ele botou enaraplil pra o inchado do pé. Eu tomo enarapli e o pé desinchou. Só que daí eu fui tomando naraplil, naraplil a tosse ficou seca, aquela tosse seca, seca, seca, seca fui socorrido pro hospital.

 

[Entrevistador: 15 dias sem o remédio? E por quê?]

Josivan: Porque não fui lá. 

[Entrevistador: Não tinha, tava faltando? Lá na Paraíba? Que coisa!]

Josivan: Mas agora eu botei na justiça. Tá chegando sempre lá.

 

É comum que, após o transplante cardíaco, os pacientes precisem passar por procedimentos médicos relacionados a outros órgãos. Além dos rins, podem ser afetadas estruturas como a retina, havendo também a possibilidade de desenvolvimento de catarata. 

Maria do Carmo: Através do transplante eu fiquei com problema na visão. Como eu falei para o senhor que eu fiz cirurgia de retina no olho esquerdo e no olho direito, eu fiz umas aplicações.

[Entrevistador: Isso por conta das medicações do transplante?]

Maria do Carmo: Também e... Foi. Vou fazer catarata. Eu estava na hemodiálise quando deu uma crise. Era uma dor tão forte em meus olhos que parecia que ele ia sair do lugar. Aí a médica veio, me transferiu, transferiu, né? Altino Ventura.

Maria do Carmo: Aí, eu só sei que eu fiquei e sai de lá era 03h30 da manhã. Aí fiz tratamento laser no meu olho. Sofri pra dor. Eu pensei que eu não ia enxergar mais.

 

Reginaldo: É. Esse me perturbou mais ainda. Eu fui perdendo a visão e tudo na boca. Aí fiz duas cirurgias. Eu estava com um problema na vista, catarata, me esqueci. Já aproveitou do, do remédio e eu andava todo caindo mesmo. Perdi a visão, fiz a cirurgia. Eu, falva comigo, seu nome, por exemplo, é Paulo: Oh Paulo tudo bem, mas não enxergava e pronto, hoje eu to só contando história. Hoje eu to só três remédios.

 

Alguns pacientes acabam relatando o desenvolvimento de diabetes mellitus pós-transplante cardíaco, o que pode ocorrer em razão das altas doses de imunossupressores utilizadas. Embora seja uma complicação que afete menos da metade dos pacientes, acaba sendo uma condição clínica importante, pois traz mais desafios na vida dessas pessoas. Ainda assim, mesmo diante dessa nova adversidade, os pacientes demonstraram serenidade e capacidade de adaptação.

Mirko: Eu tive uma, primeiro, primeiro eu peguei, eu adquiri a diabetes devido a medicação. Aí passei 20, passei 22 dias internado. Dois dias foi na UTI, 20 foi na enfermaria. Aí controlou tudinho. Recebi alta, fui para casa. E o ano passado, no começo do ano passado, eu tive uma rejeição. Eu tive uma rejeição, aí fiquei internado aqui também. Passei 24 dias internado tratando dela.

 

José Joaquim: Ah… De lá pra cá minha vida tem sido boa. Boa porque às vezes dá um, um mal-estar ali e tal. Aquela coisa ruim. Aí fica por ali, tomo um chazinho e melhora tudo. Eu peguei diabetes também. Aí toma muito remédio. Mas é assim."

 

O surgimento de problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, também é uma das queixas entre os pacientes após o transplante. Essas alterações emocionais podem estar relacionadas a vários fatores, como ao estresse do procedimento, às mudanças na rotina e, principalmente, ao uso de medicamentos em altas doses, que podem afetar o equilíbrio químico do cérebro. 

Reginaldo: Se eu dirigir, se eu chegar, vamos supor, se eu for agora pra uma BR muito boa, libera eu pra correr a vontade, quando chega em quarenta km, cinquenta km, eu começo a me tremer, começo a tremer, mas eu to bem melhor, né. Vamos supor, se eu chegasse no sinal, hoje, eu paro no sinal, um carro para aqui de lado, para do outro, aí o sinal abre, passa os dois carros na frente, eu freio, puxo, penso que o carro tá voltando pra trás.

[Entrevistador: Nervosismo, é?]

Reginaldo: É, é, mas as vezes eu to conversando bem com o doutor, to bem, mas me desculpe se daqui a pouco eu começar a gaguejar. Começo a gaguejar, começo a tremer, mas isso tudo é o remédio, é muito remédio, isso tudo é o remédio, né. 

 

Valdeir: Mas eu tive surtos de querer me matar. Mas isso o psiquiatra tá tratando, não é?

[Entrevistador: Como é que foram esses surtos assim?]

Valdeir: Começou do nada. Foi tipo querer ficar travado dentro de casa, sem querer me levantar da cama. Sem querer fazer nada, sem reação nenhuma. Ai foi quando vim pra cá e na consulta e minha irmã comentou com Dr. Rodrigo. Aí Dr. Rodrigo me encaminhou direto pro psicólogo. Aí da psicóloga, ela me encaminhou pro psiquiatra.