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O transplante é vivido como um verdadeiro renascimento, cuja dimensão só é compreendida plenamente por quem passa pela experiência.
“Assim, a diabetes eu já tinha antes do transplante. Eu fui transplantada diabética e minha cicatriz é a coisa mais linda do mundo.
[Entrevistador: Eita, mal aparece.]
Mal aparece. Isso aqui assim, uma cicatrização dessa pra diabética é uma graça. Muito grata. Mas o transplante é isso. É, é... A gente não tem noção do que é. Você só tem noção depois que você faz. Porque é um renascer. Hoje eu sou... Hoje tô com nove anos de transplantada. Eu levo uma vida normal. Eu sou costureira, eu costuro. Agora, eu peguei 60 roupas pra fazer. Minha primeira encomenda. Levo minha vida normal, como se nada tivesse acontecido.”
A transformação na vida após o transplante é tão profunda que até os pequenos hábitos do dia a dia ganham um novo significado. E esse novo significado, mesmo que seja algo simples para a maioria das pessoas, passam a ser conquistas importantes para as pessoas que realizaram o transplante cardíaco.
“[Entrevistador: E como é que está a tua vida atualmente assim?]
Tá ótima, fazendo tudo. Antes eu não conseguia escovar os dentes. Eu cansava, parecia que eu tinha corrido um quilômetro. Hoje, voltei a praticar jiu-jitsu recentemente. Muito, muito, muito bom. Não canso, ando. Só a sensação de você poder andar sem cansar, porque é tudo. Você se levanta da cama, dá dois passos você já cansa. No falar você cansa. Era uma vida muito complicada, foi uma vida muito complicada pra mim.”
A caminhada lado a lado entre a equipe de saúde e o paciente durante a espera pelo transplante cria uma relação de parceria e confiança. Depois do transplante, quando a qualidade de vida melhora, tudo isso se transforma em gratidão.
“[Entrevistador: E hoje, o que é que você pensa sobre isso? O que é que é um transplante para você?]
Uma nova vida.
[Entrevistador: Uma nova vida].
Uma oportunidade de novo, fora o profissional que tá aposentado de nós, que cirurgião médico, todo mundo que se envolveu, né? Que se não fosse primeiramente Deus e o médico, eu não tava aqui. Que eu tava respirando no aparelho, andava, até andar com bomba que o coração não tava mais suportando. E eu dizendo (hoje eu sou menino, então não pode ter muita bagunça. Manter a disciplina, mas a nova vida viu, novo recomeço. Se não fosse talvez ser mas tudo no devido tempo.”
O processo de reabilitação após um quadro grave de parada cardíaca e lesões neurológicas extensas exige persistência, apoio familiar e intervenções multiprofissionais. O transplante de um órgão importante como o coração não é o fim do tratamento, mas sim o início de uma nova jornada, muitas vezes longa e incerta, na qual a recuperação funcional depende de cuidados contínuos, terapias específicas e suporte emocional. A atuação da equipe médica, aliada à fé e à determinação da família é fundamental para o progresso do paciente.
“Então só os exame pra realmente comprovar que não era só em um laboratório, era vários laboratório diferente aqui e na Paraíba. Ele tem uma… hoje ele tem baixa visão. Mas ele conserta ver tudo. Ele consegue interagir bem e o coração dele foi, é milagre e também a equipe que estava com ele, que não desistiu em nenhum momento. Porque pra os médicos, pela medicina poderia já ter desligado os aparelhos naquele momento que o coração dele parou e não voltou… voltou através de muitos… botaram no aparelho. Aí o procedimento da máquina bombeando sangue 100%, o sangue dele já tinha coagulado. Aí foi problema todinho que tampou a passagem de oxigênio no cérebro. Ninguém não imaginava que tinha sido essa lesão tão grande. O exame mostra uma coisa e Carlos hoje é totalmente outra. Tanto, tanto faz na parte de neuro, quanto na parte cardíaca. Ele parou o fígado, parou o rim, parou tudo de funcionar. Só o que ficou funcionando foi o coração. E no decorrer do tempo, lá, a gente aqui no hospital, foi voltando aos poucos. Hoje ele faz acompanhamento porque ele realmente tem problema renal. Faz também acompanhamento porque… do fígado, porque ele tem um pouco de gordura. Mas não é por causa da alimentação, é por causa das medicações mesmo, que chega um dia acontecer pra qualidade de medicação tem que tomar. E o coração dele é 100%.
Ele anda muito… No caso, o cavalo foi o meio que a gente arrumou pra reabilitação. Ajudar na reabilitação dele. Ele não tinha de forma nenhuma. Ele passou mais de dois anos de cadeira de rodas, e a cadeira de rodas dele quem deu foi o Dr. Figueira. Toda adaptada. Tem que ser a que vinha com toda adaptação. Ele tinha que andar amarrado no peito, tinha de ter sustentação no pescoço que ele não tinha. Então ele… daí por diante, a gente foi, pegou, comecei… botei ele no cavalo, com a instrução do fisioterapeuta, mas ele sempre caía pra um lado, pro outro. A gente ia segurando e fui persistindo até que chegou o dia que Carlos tava já andando numa sela de montaria normal.”
O tratamento para insuficiência cardíaca avançada, especialmente quando leva à necessidade de um transplante, impõe ao paciente um longo percurso de sofrimento físico e emocional marcado por limitações importantes na qualidade de vida e uma constante sensação de vulnerabilidade. No entanto, após a realização do transplante, observa-se uma melhora significativa na funcionalidade e na qualidade de vida, permitindo ao paciente retomar práticas de lazer, atividades com a sua família, e o convívio social.
“Foi difícil, foi. Só Deus e eu sabe o que a gente passou, o que eu passei. E a minha esposa. A luta foi... Ficava inchado, botava o dedo assim na canela, assim, o dedo entrava. Passava mal, sempre eu passava mal, constantemente eu tava passando mal. É luta. Foi uma luta. Às vezes a pessoa fica reclamando assim… O que a gente passa o que passou.
Eu… assim, eu saio muito com a minha esposa, passeio, passeio de catamarã. Eu… pra banho, esses negócio tudo. Banho de rio, banho de praia. Eu gosto mais de um riozinho, mas, mesmo assim, também, eu não tomo nem muito banho. Eu já gosto mais de piscina.
[Entrevistador: Sim?]
É. A gente sai muito. Todo final de semana, a gente dá, a gente sai, a gente brinca.”
A fala de Auricélia revela como, diante de situações tão delicadas, o futuro passa a ser encarado de forma mais simples e com foco no presente. A gratidão pela vida e pelos vínculos familiares se sobrepõe a metas materiais, e a espiritualidade surge como um pilar essencial para enfrentar os desafios.
“[Entrevistador: E quando a senhora olha pra frente, o que é que aparece? O que é que pensa pra o futuro?]
Ah, o futuro? Eu só entrego a vida a Deus, porque a Ele é quem pertence. Não precisa de... ir atrás de meta não. A meta que eu já tinha, que eu tenho, Deus já me deu, que é a vida de novo, pela segunda vez. Tenho meus dois filhos que eu amo, tenho minha neta, tenho a minha família, tem o meu marido. Eu só tenho que agradecer mesmo.”
A resposta de Oswaldo reflete um olhar positivo e bem-humorado sobre a vida, mesmo diante das limitações impostas pelo tratamento. A comparação com a juventude revela tanto o desejo de vitalidade quanto a capacidade de enxergar aspectos bons da vida, apesar das dificuldades.
“[Entrevistador: Então você está satisfeito com a vida?]
Tô! Tô bem satisfeito. Se não fosse essa hemodiálise, eu tava… Tava um menino novo, um menino de 15 anos… 17 anos."
O transplante muitas vezes representa a transição de uma vida limitada, marcada por sofrimento físico e emocional – para uma vida com mais satisfação, com mais qualidade.
“Hoje eu me sinto bem, em termos do que era antes, né. Você estar três vezes por semana, numa máquina, fazendo hemodiálise é triste. Eu tinha medo de agulha, levava três furadas, às vezes, quatro, sei lá, e quando saía ainda levava mais furada, tomava injeção. Passei 15 anos só levando furada nos braços. Hoje só os remédios que eu tomo pra manter, um pro rim e outro pro coração. Logo que eu fiz o transplante eu comecei a tomar 80 comprimidos por dia, hoje eu só tomo 9. Baixou muito e eu espero que baixe mais.”