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As trajetórias de vida dos pacientes transplantados de coração são marcadas por desafios, superações e muita esperança. Por trás de cada diagnóstico, há histórias de amor, perda, trabalho e resistência.
Andrea, por exemplo, carrega uma trajetória de muita força. Ela perdeu o marido subitamente após uma infecção grave que o levou a um quadro de morte cerebral. Essa perda aconteceu pouco tempo depois do nascimento de sua neta, que, hoje, é uma das suas maiores motivações para seguir em frente. Andrea sempre enfrentou a vida com humor e resiliência, transformando em "hotéis cinco estrelas", como gosta de brincar, os hospitais onde trata desde os 14 anos uma doença hereditária cujos sintomas já sentia desde criança, mas só começou a investigar e tratar depois da morte da mãe e do irmão. Mesmo diante das dificuldades, ela acredita firmemente que cada um tem uma missão na vida e que o sofrimento pode ser enfrentado com leveza.
“É difícil, né? Mas a gente continua, porque eu acredito que todo mundo tem uma missão no mundo e eu tô cumprindo a minha. Eu vejo assim a vida.”
Auricélia também viveu uma trajetória de muitas batalhas. Descobriu a doença cardíaca durante a gestação do segundo filho, aos 17 anos, enfrentando o preconceito e a falta de apoio do companheiro. Criou os filhos praticamente sozinha, enfrentando dificuldades financeiras e familiares. Além disso, cuidou da irmã, que também passou por um transplante cardíaco, mostrando-se uma mulher de coragem e determinação, que luta não apenas pela própria vida, mas também pela daqueles que ama.
“Foi, seis meses depois. Morreu meu irmão com 18 anos e depois veio minha mãe. Aí nesse período, né, que foi o período que a gente começou a caminhar, aí foi quando eu descobri que tinha também o problema e comecei a andar, fazer todos os exames. Eu já tinha os meninos. A vida continua, né? Não parou a vida. Porque depois que eu descobri o problema e fui andando, fui caminhando.”
Carlos Henrique cresceu com o apoio da mãe e dos tios, após a separação dos pais. A ausência do pai, que nunca se importou com ele, marcou profundamente sua infância. Muitas vezes, quando pedia ajuda ao pai, era ignorado, e precisava recorrer ao tio ou à mãe. Essa vivência fortaleceu ainda mais os laços familiares com a mãe e os irmãos, sendo a união e o apoio mútuo a base para enfrentar os desafios de saúde e da vida.
“Tem pessoas que moram aqui na cidade, tem pessoas que mora próximo, mas não dá assistência. Mas não faz diferença, não. A gente conta com muitas pessoas que ajudam no dia a dia com a presença, com tudo.”
Danilo, militar da reserva, dedicou sua vida ao serviço público. Trabalhou por anos em presídios e na segurança da Assembleia Legislativa de Sergipe, onde lidou com situações complexas e perigosas. Pai de quatro filhos, sempre priorizou a educação deles, mudando de cidade para oferecer melhores oportunidades de estudo. Mesmo com o diagnóstico de uma doença cardíaca grave, manteve sua disciplina e dedicação, enfrentando com coragem o tratamento e a mudança de estilo de vida.
“Aí da onde a gente trabalhava na carpintaria a gente via o exército brasileiro, tinha o exército, dava para ver a turma fazendo e eu comecei a gostar da vida militar, me interessar por aquilo.”
Elindinaldo teve uma infância difícil. Seu pai foi assassinado em uma tentativa de assalto quando ele tinha apenas sete anos, deixando a mãe sozinha para cuidar de dez filhos. Desde cedo, precisou trabalhar como ambulante para ajudar no sustento da família. A vida adulta também não foi fácil: enfrentou a separação conjugal, motivada, em parte, pelas dificuldades financeiras agravadas pela doença. Sua mãe, que sempre o ajudou, faleceu recentemente, tornando a luta ainda mais solitária. Mesmo assim, Elindinaldo continua buscando trabalho e tentando se reerguer, mostrando que a esperança é maior que o desespero.
"Na época... Meu pai, mataram o meu pai quando eu tinha sete anos de idade. Em uma tentativa de assalto. Assassinaram ele. Aí só ficou minha mãe e a gente era dez irmãos, dez irmãos. Porém, na época, meu pai, que era o cabeça da casa, que ele era construtor também, e os meu irmão que eram mais velho, trabalhava para ele, com ele. Aí foi que ficou sem renda também. Aí, naquela época, o negócio do INSS para receber a pensão era tudo mais difícil. Minha mãe passou quase três anos para começar a receber da parte do meu pai. Aí foi uma época muito difícil.”
Jeová viveu uma trajetória cheia de altos e baixos. No passado, mergulhou no mundo das drogas, da bebida e da prostituição, colocando-se em situações de risco constante. Mas encontrou na fé um caminho de transformação. Após se converter, deixou a antiga vida e passou a buscar novos rumos. Vendedor ambulante, ia às consultas médicas e, para garantir sua subsistência, vendia pipoca e água nos corredores do hospital. Sua vida amorosa também foi tumultuada, com várias relações e casamentos, mas, após o transplante, casou-se novamente e tenta manter uma rotina mais estável, sempre valorizando a fé e a superação pessoal.
“Eu não vou nem dizer como o que foi, porque é uma longa história, mas Deus me libertou da bebida, me libertou das mulher, desse mundo de prostituição e passava pela morte porque ali você em festa, em principalmente festa de rua, em clube, em festa de rua, onde tinha assim muito trio elétrico, essas coisas, eu tava ali no meio da multidão, pegava a faca, pegava uma garrafa quebrava e começava a briga e você no meio.”
José Alves começou a trabalhar cedo, vendendo picolé e amendoim na praia para ajudar a família. Não teve oportunidade de estudar, pois, quando criança, a família passou por muitas dificuldades após ser abandonada pelo pai. Mais tarde, foi diagnosticado com uma doença cardíaca grave. Mesmo enfrentando o cansaço e as limitações físicas, mantém uma personalidade alegre e comunicativa, fazendo amizade com todos e contando sua história com orgulho. Durante a pandemia, aproveitou o tempo em casa para escrever um livro e até compôs uma canção, mostrando que, mesmo com as adversidades, continua criativo e cheio de vida.
“Aí quando chegou aqui minha mãe não podia trabalhar e a gente pequeno, minha mãe botou eu num colégio ainda, mas faltava as coisa dentro de casa, nisso não tinha nada dentro de casa, aí eu peguei e parei meus estudo. Eu vendia picolé, amendoim na praia, pronto. De lá pra cá eu não parei não de trabalhar.”
Jorge passou por perdas significativas que marcaram sua trajetória. Perdeu a esposa e, pouco tempo depois, a mãe. Essas mortes o abalaram profundamente, levando-o a uma depressão e ao uso abusivo de drogas. Ele relata que, após a morte do pai, ficou ainda mais fragilizado, sentindo que não tinha mais chance de se recuperar. A fé em Nossa Senhora da Conceição e o amor pela filha, a quem sempre buscou proteger, foram as forças que o mantiveram de pé nos momentos mais difíceis.
“E a minha esposa doente também, do pulmão. De seguida, morreu. Aí eu disse: ‘Pô, véi, que situação.’ Meu pai já tinha morrido no dia do meu aniversário. Meu pai morreu em 2011, dia 31 de maio. Aí foi que eu piorei. Aí, nessa situação adoecendo, adoecendo. Aí minha mãe que ficava conversando comigo, ‘Mãe, eu não tenho chance mais, não.’ ‘Tem calma, rapaz. Tu vai, tu vai ter, tu vai ter chance.’ Aí eu... Minha filha, tinha o que? Minha filha tinha uns seis anos. Aí eu botei minha filha no colo, assim, disse: ‘Olhe...’ Eu tenho muita, eu tenho muita fé em Nossa Senhora da Conceição.”
José Antônio Oliveira, poeta e sonhador, encontrou na arte uma forma de expressar seus sentimentos após o transplante. Apesar das limitações físicas que a doença lhe impôs, manteve sua alegria e sua paixão pela vida, compondo versos inspirados e cheios de esperança. O transplante, para ele, foi um divisor de águas, mas também um recomeço, onde pôde, mesmo com menos energia, reinventar-se e fortalecer laços com quem ama.
“Eu converso, faço amizade, tudinho, conto minha história. Pronto, agora mermo lá em casa eu, com essa pandemia, depois do transplante, essa pandemia, o que é que tô fazendo, eu tô fazendo um livro, acredita? Não a história da minha vida sabe, dos meus problemas não, assim, a história assim de, pronto, eu fiz uma canção, certo, assim, ‘Lua Cheia’, eu posso falar uns versinho pro senhor?”
Felipe Valério viveu o impacto da doença em meio à crise financeira. No início, pôde tratar-se na rede privada, mas, com o esgotamento dos recursos, recorreu ao Sistema Único de Saúde (SUS), onde se surpreendeu positivamente com o atendimento. Sua trajetória revela não só a luta contra a doença, mas também a quebra de preconceitos e a valorização da saúde pública, que, segundo ele, foi essencial para sua recuperação.
“O tratamento comecei inicialmente particular. Eu tinha recurso financeiro, então eu fui até onde o recurso financeiro deu, porque eu, inclusive, eu era uma pessoa que eu não acreditava no SUS, não acreditava no SUS, tinha muito preconceito em relação ao SUS, né? Tinha o convênio e tal. E fui levando até onde eu pude, né? Aí quando acabou o dinheiro, aí a gente não tem outro jeito, fui pro SUS. Quando eu comecei a fazer o tratamento no SUS, comecei a receber o medicamento e tal. Acho que aí deu para me regularizar.”
Erianderson relata um dos momentos mais marcantes de sua vida: a perda da mãe. O episódio, que ocorreu de forma repentina, abalou profundamente sua saúde emocional, levando-o a um episódio grave de arritmia e desmaio. Ele conta que, ao perceber a morte da mãe, seu coração não suportou. Esse momento marca a profunda ligação entre as emoções e a saúde física, tão presente nas histórias desses pacientes.
“‘Ah pois mãe tá morta.’ Aí quando realmente eu fui me prontificar, que fui olhar... Ali foi, foi o fim. Deu uma arritmia no meu coração que eu não suportei mais. Deu aquele apagão também. Caí."
Esses relatos revelam não apenas o enfrentamento da doença, mas também a importância das histórias pessoais, familiares e sociais nas quais a doença se insere. São trajetórias cheias de desafios, mas também de amor, resiliência e fé. Cada um, à sua maneira, mostra que a vida é feita de recomeços, mesmo quando o coração precisa ser substituído. São histórias que inspiram, emocionam e ensinam que, apesar das dificuldades, sempre é possível seguir em frente.