Recebendo a indicação do transplante

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O transplante cardíaco, em muitos casos, não é aceito de imediato. Alguns não sabem do que se trata, nunca ouviram falar nem imaginam o que seja um transplante. O medo do procedimento cirúrgico apesar da gravidade do estado clínico também leva muitos pacientes a uma recusa inicial. Os familiares desempenham um papel fundamental nessa situação, pois, mesmo quando um médico recomenda o transplante como o melhor a ser feito, apenas um familiar com vínculo emocional maior com o paciente pode conseguir mudar sua decisão.

“Tu tem que fazer... Tu vai fazer esse negócio de marcapasso, mas não vai adiantar nada, porque tu mora muito longe, mora muito longe. Se fizer uma crise, pra tu vir pra cá... Não dá tempo." Como não deu dos rins agora. Digo: "O que é, doutor?" "A solução é tu fazer um transplante de coração." Aí foi o susto que eu peguei, porque eu, como eu não sou torneiro mecânico, eu sei que não é, não um gel desse que vai no comércio e tem, né? Aí eu fiquei assim... Ele disse: "Olha, mas não esquenta a cabeça, não. Eu vou te dar uma semana pra tu pensar, conversar com a tua família lá." Eu, quando eu vim, eu trouxe o meu irmão. Aí, conversei... Aí pensando, digo: "Não. Não vou fazer esse transplante, não. Ai doutor, eu não vou fazer esse transplante, não." "Por que?" "Por isso e por isso.”

 

Alguns pacientes não reagem num primeiro momento, porque não sabem do que se trata um transplante:

“Quando a médica me falou que eu ia precisar de um transplante, para mim eu não fiquei nem surpreso, até porque eu não sabia do que se tratava, não sabia se era um tratamento. Fiquei sem saber, né? Até que quando eu fui encaminhado para cá e aqui começaram a me explicar como que era o transplante… Confesso que senti bastante medo, mas fazer o quê, se era a única solução, né, para viver. Aí tive... Aí aceitei, graças a Deus fiz e estou aqui.

Entrevistador: E você ficou com medo de que?

Mirko: De morrer. Assim, certo que na vida que eu tava também não ia durar muito, né. E a solução era o transplante. Para que, para que eu, para que eu viesse viver mais um tempo.”

 

Há também quem mal entenda que o transplante seria a solução para quem é pobre, porque ricos poderiam se manter vivos pagando os remédios, sem correr riscos com a cirurgia de transplante.

“Entrevistador: E como foi que o senhor soube que ia precisar fazer um transplante? O que disseram ao senhor?

Silvânio: Os médicos perguntaram, se que eu não tinha mais vida, para que coração mais, eu não resistia mais viver. Se eu queria, aceitava fazer o transplante, que tem gente que aceita e no tempo que a situação não aceita, né? Perde até o coração. Aí eu já tava no final, que o coração não resistia mais remédio. Aí eu mesmo quem aceitei. Eles perguntaram se minha família aceitava ou se eu ía..., eu falei: não, eu mesmo assino. Quando tirar você desse remédio, aí você... Quem é rico fica em casa tomando aquele remédio com o coração, pronto. E quem não é, quem não tem, é a situação financeira, quem não tem, não tem condição de manter o remédio, morre, né. Entendeu? Aí eu disse: é, então eu assino. Aí assinei, e ligeiro apareceu o coração.”

 

Quando o paciente recebe a indicação do transplante, algumas vezes há uma grande comoção familiar que, por sua vez, acaba convencendo o paciente a realizar a cirurgia pelo desejo dos familiares de que o seu familiar não morra e continue convivendo com eles.

Eu não queria fazer. Foi meu filho que me obrigou a fazer. Eu tinha medo. Eu tinha muito medo. Assim, eu sempre fui uma pessoa muito sadia. Eu não tomava um comprimido. Meu ex-marido era maníaco. Ele... Se a dor da cabeça viesse daqui a 200 km, ele já estava tomando remédio. Então ele fazia: "Toma comprimido." Eu disse: "Não, eu vou deitar que passa." Então eu deitava e quando eu acordava tava boa. E eu não tomava remédio. Aí, de repente, eu me vejo com esse problema tomando minhas noites. Aí, pra lidar com isso foi difícil. Aí fiz o tratamento na, no [Hospital] Português durante um ano. Depois que ele disse que não tinha jeito, ele conversou comigo sobre transplante. Como eu não andava mais, eu sempre ia com esse meu filho, Diogo. Aí, ele disse: "Olhe, dona Gorete, infelizmente eu não tenho mais o que fazer pela senhora. Porque agora só o transplante." Aí eu disse: "Pronto, então termina aqui as nossas consultas, porque eu não vou fazer."

 

Alguns pacientes desenvolvem um certo afeto e confiança pelo médico(a) que o trata, é natural e isso ajuda muito no processo. Quando um médico(a) que cuida do paciente há um tempo diz o que precisa ser feito, a fala dele é aceita com mais facilidade.

“Pedro Assis: Dra. Roberta Calaça,ela ali não era doutora, ali era uma mãe para mim. Aí passei seis anos com ela, nesse período. Aí que ela me jogou para outra médica, me transferiu para outra médica de lá mesmo. Aí teve uma que disse: "Seu Pedro, seu caso é transplante, você quer fazer seu transplante?" Eu disse: "primeiramente você, segundo Jesus, é o que eu posso fazer". Me transferiu pra aqui e aqui eu comecei a luta de novo até conseguir o coração. E passei duas filas de espera, dois anos. Dois anos e dois meses. Dois anos. Dois meses na fila de espera, apareceu o coração. To transplantado vai fazer 11 anos.

 

Alguns pacientes são convencidos de realizar o transplante devido aos diversos problemas de saúde que estão sofrendo ou que irão sofrer ao postergar o procedimento, numa decisão pragmática pela gravidade da situação e pela falta de alternativas:

“Eu digo: ‘Pra quem tá em casa passando mal...’ Porque eu não dormia mais, não comia, não conseguia me deitar, só vivia sentado. Se eu desse passos, passava logo mal, desmaiava. Não conseguia tomar banho mais só. Aí foi quando ganhei a proposta. Eu digo: ‘Doutor, tô passando mal em casa, arriscado a vim falecer. Então se for pra ficar, é melhor eu ficar.’ Aí nesse mesmo dia eu fiquei, fiz os exames dia dois e fiquei até dia quatro, quatro ou foi dia cinco. Aí ele me mandou pra casa porque tava cheio de bactéria tudinho, pra eu esperar o coração. Quando foi dia 14 ele liga para mim de manhã pedindo para eu vir, dizendo que chegou o coração para ser transplantado.”

 

Apesar do medo e tristeza em saber que vai precisar de um transplante, quando o resultado é satisfatório o paciente sente que o processo, apesar de difícil, valeu a pena.

“[Entrevistador: Quando recebeu a notícia que ia precisar do transplante. Como é que foi?] Ai, foi muito difícil. Muito mesmo. Porque, assim, eu tinha que esperar aqui. Eu tinha que vir embora pra cá, pra esperar aqui o coração. E eu fiquei aflita, assim, porque eu nunca tinha andado aqui e, assim, ter que vir morar aqui? E sem saber quando que ia acontecer? Tinha que largar tudo lá? Chorei muito, mas valeu a pena.”