Assistentes Sociais (1)

 

Elen é Assistente Social e integra, desde 1991, a equipe multidisciplinar de cuidado à hanseníase do Hospital Universitário da UFRJ. Na época em que iniciou seu trabalho, Elen “nunca tinha sequer chegado perto de uma pessoa com hanseníase," foi uma experiência nova para ela. Atuando na equipe e aprendendo na prática as demandas da população, ela pôde compreender o quanto as pessoas acometidas por hanseníase estavam em risco e vulnerabilidade social. Vários dos pacientes apresentavam sequelas e deformidades físicas graves em decorrência de anos de doença sem tratamento adequado. Algumas pessoas haviam, inclusive, morado décadas nos grandes hospitais-colônia do Rio de Janeiro e estavam em processo de reintegração social. Diante dessa realidade que ela caracterizou como “desafiadora”, Elen decidiu utilizar uma das estratégias interventivas do serviço social: o trabalho com grupos.

Ao longo dos muitos anos que se dedicou ao grupo de pessoas com hanseníase que criou no Hospital, observou uma mudança gradual no perfil e nas demandas dos pacientes que o frequentavam. Elen pôde acompanhar os impactos da ampliação do acesso aos postos de saúde, com melhor disponibilidade à poliquimioterapia e ao cuidado médico. Pouco a pouco, ela percebeu que os pacientes recebiam o diagnóstico e iniciavam o tratamento mais cedo, e embora não apresentassem tanta vulnerabilidade quanto antes, continuavam tendo necessidades específicas. Além da “necessidade de um tempo para conversar, tirar dúvidas e falar das suas aflições”, Elen constatou que os pacientes careciam de orientações quanto à adaptação a suas sequelas e quanto à manutenção segura de suas atividades cotidianas. Diante de pacientes que apresentam redução na sensibilidade, ela ouvia frequentemente histórias de acidentes que ocorriam em casa, na rua ou no trabalho, que acabavam por agravar suas incapacidades, apesar de um adequado tratamento e cuidado médicos.

A partir dessa observação, Elen iniciou a trabalhar o autocuidado em seu grupo, proporcionando uma base para prevenir novas incapacidades ou evitar que elas piorassem. O intuito é auxiliar o paciente a estar atento ao cuidado no cotidiano, e a criar novas estratégias de cuidados diante da sua realidade de vida. A iniciativa da assistente social se sedimentou em 2010, quando o Ministério da Saúde recomendou que as equipes de cuidado em hanseníase formassem grupos de autocuidado. Como ela já trabalhava há muitos anos com o tema, se tornou uma das monitoras do Ministério, que treina as equipes para implementar grupos de autocuidado em outros estados.

Elen considera o resultado final da criação dos grupos de autocuidado sua maior satisfação. “Me fez crescer profissionalmente, em termos de aprendizado. Traz um retorno profissional e pessoal muito grande”. Em sua entrevista, relembra várias histórias de superação vividas pelos pacientes em seus grupos de cuidado, e fica contente e emocionada de poder fazer parte dessas histórias enquanto profissional. “É uma emoção ver o trabalho realizado, bem feito. Ver as pessoas se integrando, se aceitando, se gostando. Tendo certeza que podem ter uma participação social como qualquer outra pessoa.” A possibilidade de treinar outras equipes, que irão reproduzir o trabalho em seus estados com outros pacientes, também é uma grande satisfação.

Além de seu trabalho no grupo, Elen realiza atendimentos individuais, que são oferecidos a todos os pacientes que estão em tratamento no hospital. Em seus atendimentos, complementa as informações da equipe, tira dúvidas e esclarece conceitos, “para que o paciente passe por aquele momento com menos angústia e possa buscar o tratamento adequado”. A maior dificuldade para ela é a falta de recursos complementares ao tratamento oferecido pelo Hospital. Muitas vezes, os pacientes carecem de serviços e benefícios que extrapolam seu trabalho e que não são garantidos pelo sistema de saúde. Cita como exemplo a dificuldade que os pacientes apresentam no acesso a próteses, cujos serviços do Rio de Janeiro não atendem a demanda das pessoas que as necessitam. "Às vezes temos o desejo de fazer mais pelos pacientes, mas temos limites em termos de políticas públicas".