Cardiopatia Reumática

Diagnóstico – Cardiopatia Reumática

Idade ao sofrer o transplante cardíaco – 48 anos

Idade ao ser entrevistada – 52 anos

Em seu relato, Duarte afirma ter sido diagnosticado com doença cardíaca em 1983, quando tinha apenas 12 anos. Nesse período, começou a sentir muita dor no peito, atrapalhando em seu rendimento, pois passava a maior parte do tempo deitado devido ao incômodo. Seu tio, ao viajar de Maranhão a Salvador, levou-o a um hospital para fazer exame cardiológico, o qual foi constatado o problema no coração. Iniciou um tratamento medicamentoso, mas não o manteve de maneira regular. Assim, em 1986, as dores pioraram e ele precisou ser internado. 

Ficou um período longo estável quanto aos sintomas, contudo, em 2006, as dores retornaram, fazendo-o procurar um serviço de saúde em Teresina (PI), onde estava morando no momento. Após vários exames, a doutora a qual o acompanhava constatou uma necessidade cirúrgica: trocar duas válvulas cardíacas - Mitral e Aórtica. Com pouco de espera, fez sua cirurgia pelo SUS. Entretanto, menos de um ano depois, foi percebida a urgência de colocar um marca-passo cardíaco, realizando-a em sua cidade natal (São Luís). Esse procedimento cirúrgico, todavia, não teve sucesso. 

Ao voltar ao hospital, a melhor opção que ele tinha era de transplantar. No início, ele ficou relutante quanto a essa alternativa, mas após rescindirem os sintomas, aceitou realizar essa cirurgia. Outro desafio o acompanhou: o transplante tinha que ser feito em Pernambuco e ele não tinha condições financeiras para se estabelecer por lá . Após dias analisando quem o poderia ajudar, lembrou-se de uma amiga freira a qual havia mudado para Recife. Ao entrar em contato com ela, conseguiu um local para morar temporariamente. 

Assim, mudou-se para Recife e realizou o transplante, com pouco tempo de espera.  Ficou cinco dias na UTI para ser monitorado e, nesse momento, foi constatada falência renal. Iniciou hemodiálise na mesma semana e teve que entrar novamente na fila de espera, mas agora para o transplante renal. 

Conseguiu alugar um local para morar  em Recife para realizar as sessões de hemodiálise enquanto esperava seu rim chegar. A espera durou 4 meses. Desde seu transplante renal, vem sendo acompanhado por ambulatório , a fim de se recuperar. 

No fim da entrevista, o paciente alegou ter vontade de conhecer as famílias dos doadores, porém sabe apenas de onde eles são. O coração veio de um jovem morador de Petrolina de 26 anos, o qual faleceu após um acidente de moto. E o seu rim veio de um paraibano. 

Chegou a se questionar se era justo transplantar um órgão de alguém que morreu, mas esse sentimento de angústia foi ressignificado em gratidão por essas pessoas. Ao ser questionado sobre o transplante, afirmou: “Transplante que é bom. É uma vida nova, um recomeço.” 

Diagnóstico – Cardiopatia Reumática

Idade ao ser diagnosticado –  56 anos

Idade ao sofrer o transplante cardíaco – 56 anos 

Idade ao ser entrevistado – 59 anos

Jonean é um homem de 59 anos atualmente, que era portador da febre reumática, mas não sabia ainda da doença quando os sintomas cardíacos tiveram início. Os sintomas do Jonean começaram com um cansaço e uma palpitação frequente por volta dos anos 90, quando ele tinha uns 30 e poucos anos de idade, até que eventualmente ele sofreu uma síncope e finalmente ele foi procurar ajuda médica. Ele foi ao CETRANS e de lá foi encaminhado para o setor de cardiologia do hospital português, onde começou o acompanhamento com o doutor Gilvan, que fazia parte da equipe do doutor Carlos Moraes. 

Jonean iniciou a fazer os exames necessários e, após realizar um cateterismo, a equipe médica chegou à conclusão de que ele iria precisar de uma cirurgia de urgência para trocar a válvula mitral. Jonean colocou um marca-passo definitivo à pilha que teria que ser trocado de 10 em 10 anos. Porém, ele fez a primeira troca com somente dois anos de intervalo, e foi por um tipo diferente de marcapasso e posteriormente ele começou a sentir cansaço extremo, além de uma perda de peso significativa, esse cansaço persistiu até que ele teve que fazer uma viagem a trabalho para fortaleza e não aguentou cumprir suas funções de trabalho, ele era jogador de futebol, ao retornar para sua cidade ele foi ao PROCAPE procurar ajuda médica. Chegando lá o médico perguntou de quando era a válvula, houve uma confusão quanto a isso, Jonean falou que era de 1996, porém o médico entendeu ser de 2006, por isso não viu necessidade troca, por conta disso o paciente sentiu necessidade de trocar de unidade de tratamento. Na época sua esposa trabalhava no IMIP e conhecia o doutor Alexandre Lucena, foi quando ele fez essa transferência de cuidados médicos e após exames, o doutor Alexandre informou que ele estava apresentando uma condição de inchaço do coração, que ele iria passar medicamentos para controlar, mas no futuro seria necessário a realização de um transplante. 

Em um primeiro momento a notícia foi um grande choque para Jonean, ele relata ter chorado bastante e ter tipo períodos de depressão por achar que iria morrer. Ele não sabia como funcionava um transplante cardíaco, porém relata que imaginava que não daria certo trocar seu coração por outro. Nesse período ele ficava em casa e quando passava mal voltava para o hospital para ficar internado por lá fazendo acompanhamento de sua saúde cardíaca. Eventualmente o doutor Alexandre foi substituído pela doutora Eduarda, que disse que mesmo após 23 anos de colocação, a válvula do coração ainda estava em boas condições, porém, seu coração estava batendo muito fraco e os medicamentos quase não estão mais fazendo efeito e naquele momento seria necessário pensar mais urgentemente no transplante, após essa informação seus períodos de tristeza profunda retornaram, principalmente porque ele não podia mais fazer atividades muito intensas, em especial trabalhar, ele não tinha mais ânimo de ver seus amigos e conhecidos e passava muito tempo em seu quarto, onde somente sua esposa e seu filho entravam, não se alimentava direito e por isso emagreceu de forma significativa, ele pensava frequentemente em desistir nessa época. Até que em uma segunda de manhã ele retornou ao hospital e a doutora Eduarda lhe disse que ia colocá-lo na fila do transplante e que ele teria que orar para que um coração chegasse logo, após isso ele disse que queria desistir e pediu para que sua esposa não o informasse mais sobre notícias vindas do IMIP. Porém, por pedidos do filho, ele decidiu ter esperança e em uma sexta feira o coração chegou. Nesse momento ele tinha dificuldades de andar e se encontrava frequentemente pálido por suas condições de saúde.

Jonean se recorda de ter entrado na sala de cirurgia às 18 horas e abriu os olhos novamente por volta de 2 da manhã. Foi um momento muito emotivo pra ele, em que ele agradecia muito por ter ganhado essa segunda oportunidade e por estar vivo. 

Jonean ficou internado 10 dias na UTI e 3 dias na enfermaria, nesse meio tempo ele ficou na companhia de Ítalo (um paciente que estava à espera de um coração) e relata como é triste e angustiante essa espera pelo coração para os pacientes. Em momento algum houve suspeita de rejeição para o coração recebido por Jonean. 

Recentemente (mês passado) ele se infectou com erisipela, precisou ficar internado e perdeu cerca de 12 quilos em menos de um mês (ele pesava 79 e agora está pesando 66 quilos), cresceu nele um linfonodo e por conta disso ele realizou uma colonoscopia e endoscopia. Por conta dessa perda de peso extrema ele perdeu força muscular também e relata que tem dificuldades de pegar até coisas mais leves, como uma vasilha, por conta disso fez um ecocardiograma, que comprovou que essa fraqueza não estava relacionada com o coração. Por conta de seu pai ter falecido de leucemia, ele ficou preocupado que fosse isso, porém foi comprovado ser caquexia (perda de tecido adiposo e muscular). Apesar disso, ele relata estar melhor, de vez em quando tinha uma gripe ou outra, mas o cansaço de antes nunca mais sentiu, relata não poder mais jogar futebol (até por conta de uma hérnia que ele possui). Ele está com um ultrassom marcado para novembro para investigar essas recentes manifestações de saúde, isso o preocupa, porém fisicamente ele se sente melhor. 

Atualmente ele faz controle da saúde com medicamentos e modulou sua rotina com base nisso, ele relata que todos os dias 8 da manhã e 8 da noite ele toma seus medicamentos. Não deixa de tomar nenhum dia pois considera que teve uma segunda oportunidade e não quer desperdiça-la. Porém, ele diz que existem pacientes que não tem a mesma dedicação, ítalo por exemplo, um paciente que estava na fila junto com ele, porém que estava na dúvida se faria ou não o transplante, acabou decidindo por fazer o transplante e posteriormente largou o acompanhamento, ele não sabe dizer se foi pela pandemia ou qual o motivo, mas ele não toma os medicamentos e não frequenta o hospital, o que é um sério risco a seu coração novo, na opinião de Jonean pode ter sido tristeza, que é muito comum quando se está com problemas sérios de saúde assim. 

Com relação a informações sobre o doador, Jonean diz não saber nada, sabe que foi um rapaz de 29 anos que se envolveu em um acidente, porém não sabe mais que isso. Ele tem curiosidade quanto a isso, porém os médicos não puderam falar mais informações. Apesar dessa curiosidade ele acredita ser só um órgão, não acha que as características ou personalidade do doador poderiam mudar ele. 

Após o transplante ele teve que fazer algumas mudanças de vida, como por exemplo, ele não pode mais participar dos jogos de futebol que ele gostava, não bebe mais nada de bebida alcoólica, porém sua vida sexual com sua esposa teve uma melhora significativa, pois relata que não era uma possibilidade para ele quando estava doente do coração. Por esses motivos, diz que recomenda fortemente a realização do transplante para pessoas que se encontram na fila, inclusive para fazer o quanto antes, pois ele conhece pacientes que esperaram demais e quando decidiram fazer era tarde demais.

Diagnóstico – Cardiopatia Reumática

Idade ao ser diagnosticado –  17/18 anos

Idade ao sofrer o transplante cardíaco – 22 anos

Idade ao ser entrevistado – 28 anos

Para Lenielson a questão do coração começou cedo, ainda muito novo já sentia um cansaço muito grande que por nada resolvia. Sua família preocupada começou a buscar quem ajuda-se, gastando no início muito dinheiro procurando uma solução, até que por indicação de uma conhecida conseguiu encaminhamento ao Hospital Agamenon onde viram a necessidade de uma troca de válvula, isso aos dezessete para dezoito anos.

Porém mesmo após essa cirurgia ele relata que o cansaço persistiu, afetando sua disposição para sair de casa, seu sono a noite, suas relações com sua esposa e até mesmo seu repouso. E foi nessas condições que alguns anos depois se viu tendo que ficar internado na UTI, momento em que foi conversado com ele sobre a necessidade de se fazer um transplante do coração e em que ele foi colocado na fila para a operação. Lenielson relata que não sabia nada sobre transplante, só que era sua única opção para continuar a viver “então agora não tem jeito não, escapa mais não” eram o que todos diziam.

Foram dois à três meses na espera pelo coração novo, período que passou na UTI e que relata que foi extremamente ruim: pela própria rotina da unidade de tratamento intensivo, por causa da doença, pelas injeções e pelo afastamento do convívio familiar que mesmo com visitas da mãe e da esposa não eram a mesma coisa. E esse período foi ainda mais marcante pelo fato de que sua esposa estava à espera do seu primeiro e único filho na época, atualmente um menino saudável de 7 anos.

Após a operação, ele diz que ainda precisou ficar mais 22 dias na UTI e acha não ter tido nenhuma complicação e que nem demorou para receber alta “porque cada caso é um caso”. Com o novo coração sua vida é outra, não que ache que o transplante mudou quem ele é, mas porque agora tem liberdade para sair, o cansaço crônico cessou e finalmente consegue aproveitar melhor a família e ter uma vida tranquila como gosta.

Atualmente Lenielson considera ter uma vida boa, diz que após seis anos tomando a medicação nos momentos certos e indo rotineiramente ao médico o fato de não saber ler e escrever não o impede de ser independente nos seus cuidados de saúde. Ouviu falar de pessoas que morreram por problemas no transplante, mas não conhecendo nenhum desses casos, acha serem pessoas que não se cuidavam como os médicos mandavam.

Para seu futuro, Lenielson espera arrumar algumas coisas em sua casa, comprar um carro ou moto, isso fazendo umas economias com o trabalho de costureira de sua esposa, que ele auxilia e com o que recebe pela aposentadoria que demorou um pouco a ser aprovada, mas é uma renda que ajuda a casa. Ademais, acredita que com saúde já está bom pra se viver e fala até que após o que passou chegou a ficar apreensivo recentemente com sua mãe que havia acabado operar o coração para trocar uma válvula, mas que já estava tudo bem.

Para a pessoa que está na fila do transplante, ele aconselha a pessoa a “correr, vai pra fazer seu transplante” e que a vida dela vai voltar a ficar boa.