Miocardiopatia Isquêmica

Diagnóstico – Miocardiopatia Isquêmica

Idade ao ser diagnosticado –  60 anos

Idade ao sofrer o transplante cardíaco – 60 anos

Idade ao ser entrevistado – 61 anos

Danilo fala sobre sua experiência na polícia militar, onde trabalhou tanto na parte administrativa como na operacional, além de ter sido chefe de segurança do presídio e, a partir da fala do entrevistador, concorda que a carga de trabalho era bem pesada e estressante. Então, o médico inicia o assunto sobre seu adoecimento , dizendo que, com uma sobrecarga e um estresse causados pela atividade, não era surpresa que ele tenha infartado.

A partir desse ponto, Danilo narra que, durante a atuação na profissão, a única “doença” que desencadeou foi o problema de coluna, devido a uma perseguição feita em atividade, em que, depois do ocorrido, sentiu uma dor "horrível" na coluna, progressiva, e ao procurar o médico, descobriu que tinha duas hérnias de disco e um comprometimento no cóccix.

Depois desse relato, inicia-se o diálogo sobre o infarto que acometeu Danilo. Ele conta ao médico que se aposentou, em 2019, por outras questões que não o infarto, ou seja, a dor causada pela hérnia, relata também uma dor de cabeça frequente e pressão alta, mas que sempre gostou de esportes, como correr e ir à academia.

O relato do infarto se inicia em 2019, quando, na volta da academia, realizou as atividades normalmente e, após o banho, sentiu o que diz ser uma “agulhadazinha bem fininha em cima do peito esquerdo”, que acabou ignorando. Logo após, relata que sentiu “aquela agulhada bem forte e a dor”, e uma vontade de vomitar. Quando foi falar com a esposa que estava infartando, ela não acreditou de primeira, porém Danilo começou a suar frio e vomitar de fato, o que a fez acionar o alerta para ir para o hospital. Diante disso, ele também relata que defecou “fezes pretas”, como se fosse uma diarreia, por três vezes e que, portanto, sua esposa lhe deu dois Imosec para poderem seguir pro hospital.

No hospital, sentia uma dor que o impedia de respirar adequadamente, de fazer o movimento de levantamento do tórax, mas o médico do local não achou que era um infarto e, devido à forte dor que sentia, precisou aguardar para fazer o eletrocardiograma que, quando foi feito, constatou que era um infarto. Diante do exame, foi solicitado uma ambulância que o levou ao hospital cirúrgico de Aracajú, para que pudesse realizar uma angioplastia, como relata. Assim que começou o procedimento, Danilo conta que já sentiu melhora das dores e que passou 8 dias na UTI, depois mais 2 dias na enfermaria, até ser liberado.

Relata também que, antes de ser liberado, no quinto dia de internação, começou a tossir e se sentir cansado, devido ao problema de pulmão que possuía por conta do trabalho, e fazia uso de uma “bombinha para o pulmão”, mas foi liberado mesmo assim. Quando já estava em casa, continuou a sentir o cansaço que também aumentou, até que um dia, deitado, relata que “senti que talvez não ia resistir”. Com isso, saiu da cama e foi para o sofá, respirando com dificuldade, quando sua esposa acordou, lhe deu um remédio e ligou para uma sobrinha médica, que indicou a realização de um eletrocardiograma urgente. Feito o eletro, foi identificado um trombo, após ele relatar que houve a perda de 70% do coração, anteriormente, pela demora no atendimento. A médica indicou um medicamento de uso diário, pois esse trombo estava piorando seu cansaço e sua saúde.

Sua esposa possui outra sobrinha, que é médica em um hospital universitário de Aracaju, para a qual ligou e explicou a situação, e essa conseguiu a internação de Danilo no hospital. Ao todo, ficou internado por 18 dias e, ao terceiro dia, houve uma piora significativa do seu quadro, que o fez estar “entre a vida e a morte”, como relata, e os médicos chamaram sua esposa e explicaram que, pela situação, havia 2 cenários: ou eles fariam a administração de um medicamento que o pulmão poderia rejeitar e ele não suportaria, ou se não aplicasse, ele também não suportaria. Sua esposa, então, permitiu que fosse feito o medicamento, que funcionou felizmente.

O entrevistador pergunta a Danilo como ele se sentiu naquele momento, e ele relata que era muito confiante em Deus e que, pelo estado que se encontrava, já havia conversado com esposa e filhos, preparando-os para o que poderia vir a acontecer, mas que ele estava tranquilo e havia aceitado esse destino sem se desesperar. Disse que pedia muita paciência a Deus e entregava sua vida nas mãos dele.

Com o efeito positivo do medicamento, ele resistiu, mas ainda não estava bem, não conseguia realizar pequenos esforços que já se cansava demais. Recebeu alta, mas não podia se esforçar devido ao perigo que corria, tendo até mesmo que evitar relações sexuais.

Ao ser encaminhado para um cardiologista do hospital, relata que este indicou a colocação do CDI (Cardioversor desfibrilador implantável) erroneamente, porque no seu caso não houve desfibramento, o que foi corroborado por outros médicos cardiologistas pelos quais passou. Ao retornar para Salvador, foi a mais um médico, que concordou que o CDI não servia para o caso dele e que era para continuar com os medicamentos. Porém, houve uma piora no seu quadro, novamente, que foi quando diversos médicos se reuniram para discutir o caso, e foi quando lhe disseram que somente o transplante resolveria.

Nesse momento, Danilo relata que a ficha caiu, pois sabia que na situação em que se encontrava não viveria por muito mais tempo, e que ele sabia que essa questão de transplante demorava, pois precisava entrar na fila de espera, e ele sabia que não resistiria até lá, mas não decidiu no momento. Em casa, depois de uns dias, disse que pedi a Deus uma luz, e que ficou com o pensamento de fazer o transplante, que foi o sinal que havia pedido. Sua esposa, preocupada, preferiu não dar opinião ou interferir na sua decisão, devido a gravidade do problema.

Danilo relata que, o que ele imaginava em relação ao transplante era que devido à sua condição, não aguentaria, devido à demora que poderia acontecer, além de ser uma cirurgia de risco, mas que apesar disso, não se sentiu abalado e decidiu fazer o transplante. Ligaram para avisar ao cardiologista que estava disposto a fazer e foi encaminhado para uma consulta em Recife, onde ficaria, faria exames e monitoramento até chegar o momento do transplante. Quando perguntou ao médico quanto tempo ele viveria se não fizesse o exame, lhe foi dito que não passaria de oito meses. Então, ele perguntou quanto tempo levaria de espera para fazer o transplante e o médico lhe respondeu que menos de três meses, o suficiente para animá-lo mais na decisão pelo transplante.

Relata que, no início, quando lhe foi dito da necessidade do transplante, que não queria fazer pois o coração teria que vir de outra pessoa, mas após esse primeiro momento, deixou de pensar nisso e passou a pedir a Deus somente que não viesse de uma pessoa que tivesse sofrido uma morte violenta e que chegasse na hora certa, pois não queria que alguém perdesse a vida para que ele pudesse ter a chance. Então, ele relata que o coração veio de um doador que sofreu um derrame, portanto, foi como ele havia pedido.

No dia 23 de novembro de 2019, relata que recebeu o telefonema do médico avisando que havia um coração compatível, então ele e a família foram até o hospital, perto de onde estavam morando naquele momento. Diz que entrou muito feliz para a cirurgia e que teve uma recuperação excelente na UTI, durante 5 dias, e depois foi para a UHI da Hemodinâmica já sem os aparelhos conectados, indo ao banheiro etc. Relata também que teve uma experiência excelente com toda a equipe do IMIP, que foi tratado “como se estivesse num hospital particular”. Além disso, passou cerca de 3 meses além do período de internação, ainda vivendo em Recife, para que ficasse em observação, sendo parte do protocolo.

Quando estava próximo de ser liberado para retornar para sua cidade, relata que “o vírus acordou”, devido ao uso do tacrolimus, medicamento imunossupressor, teve diarreia e outros sintomas, e foi preciso fazer uso de um medicamento por quinze dias, até que foi liberado e voltou para Aracaju. Porém, logo assim que chegou, o vírus voltou e como estava na pandemia, não voltou para Recife por indicação médica e fez os exames lá mesmo, que foi feito de forma errada e teve que ser repetido, por fim tendo resultado positivo. Com isso, Danilo teve que voltar a Recife e ser internado por 5 dias, pois havia desidratado pela perda de líquido da diarreia. Passou cerca de 20 dias no hospital fazendo uso da medicação, até melhorar e receber alta, e desde então permanece bem, sem sentir mais nada e começou a fazer exercício físico.

Relata que quando passou por essa questão do vírus, não teve medo de algo dar errado, pois o transplante era a parte mais difícil, que já tinha ocorrido, e essas intercorrências todas foram explicadas a ele antes de ser feito o transplante, pela equipe multidisciplinar, médicos, psicóloga, além de todo cuidado no pós com atividades permitidas, alimentos, os quais toma todo o cuidado corretamente.

Danilo relata também sobre não ter se preocupado com o fato de ter em seu corpo o órgão de outra pessoa, que apenas pediu a Deus que a alma dessa pessoa descansasse, por ter salvo sua vida, falando da importância de transplantes e doações, assim como ele era doador e já doou muito sangue. Falou também sobre a família não comentar sobre isso, que uns achavam estranho e outros tinham mais o sentimento de preocupação com todo o risco.

Com relação aos medicamentos imunossupressores que precisa tomar, Danilo relata que tem ciência dos efeitos colaterais e a importância do acompanhamento, das consultas e exames para verificar se toda a atividade está adequada. Relata que não vê problema na necessidade em tomar os medicamentos diariamente, para o resto da vida, por, antes, já tomar remédios diários devido ao infarto, estando acostumado a isso. Diz tomar 5 comprimidos por dia, sendo dois tracolimus e um micofenolato. Além disso, não se incomoda com os possíveis efeitos colaterais, porque sabe que está sendo cuidado de forma correta, e  seguindo as orientações de estilo

Diagnóstico – Miocardiopatia Isquêmica

Idade ao ser diagnosticado –  44 anos 

Idade ao sofrer o transplante cardíaco – 60 anos

Idade ao ser entrevistado – 61 anos

O problema de coração do senhor Donizete teve início em 2007 em um dia de domingo, quando ele sentiu uma dor no estômago enquanto estava dirigindo e, após ser socorrido, relataram que ele teria sofrido um infarto. Ele relata que foi um episódio tranquilo, ficou aguardando algum tempo no ambulatório e precisou fazer o procedimento para colocar o stent. Já no seu segundo infarto, o episódio foi mais grave e os médicos conversaram com ele que não havia jeito a não ser esperar por um coração para fazer o transplante. 

O senhor Donizete foi seguindo sua vida, aguardou por 8 anos e nesse meio tempo houve muitas intercorrências, cerca de uma por ano, apesar disso, de acordo com sua médica, ele estava indo bem, visto que o normal seria ter mais de uma intercorrência por ano. 

Os problemas que o acompanhavam nesse tempo de espera eram cansaço do coração e a diabetes, que ele relatou ser de família (sua mãe tinha), apesar de não ter tido nenhum tipo de sequela da diabetes, era apenas o acompanhamento de rotina. 

Em determinado dia ele relata que o cansaço era extremo e o impediu de trabalhar, ele conseguiu voltar pra casa e almoçar com seu filho, porém teve que ir ao IMIP em seguida. Nesse dia, o doutor Rodrigo informou que ele faria o transplante de coração. Esse episódio ocorreu no dia 19 de abril, o senhor Donizete aguardou até dia 31 de maio e realizou o transplante nessa madrugada. 

Após a cirurgia o senhor Donizete se sentiu muito bem, relata que não houve mais dores ou cansaço. Porém, surgiu uma "pequena rejeição",  o que já é esperado nesses casos,  mas no caso do senhor Donizete, entretanto, a rejeição foi um pouco acima do normal. Ele foi tratado, a rejeição foi controlada e ele teve alta. 

Pouco menos de um ano depois do transplante, ele precisou retornar ao hospital, porque surgiu uma infecção viral, como tratamento ele tomou a medicação Ganciclovir, ele relata que ia ao hospital todos os dias para fazer o acompanhamento dessa infecção, até que um dia o internaram por conta da identificação de algo alarmante em seus exames. Os sintomas começaram com uma tosse persistente, era um fungo que se instalou em seu pulmão, ele adquiriu essa infecção na enfermaria , onde foi comprovado que outros pacientes também estavam doentes pela mesma causa. Para que o tratamento pudesse ser mais direcionado foi necessário fazer uma biópsia do pulmão para entender melhor que fungo era esse. Após isso, o antibiótico foi acertado e o senhor Donizete começou a melhorar progressivamente, porém foi informado a ele que o tratamento era longo e poderia causar algum nível de dano em seu pulmão. Nesse episódio em questão, o senhor Donizete observou quatro pacientes virem a óbito por conta desse fungo pulmonar e ele relata que teve medo de morrer também. Esse sentimento partiu das conversas médicas de onde ele sentia a gravidade maior do seu quadro. No momento da alta ele ainda estava com muita tosse, apesar de sentir que o problema já estava mais controlado. Nesse período a diabetes foi difícil de controlar, mas posteriormente com ajuste de dose da insulina o quadro começou a melhorar. 

Por conta de um dos medicamentos, o mais forte chamado de Tricolinas, o senhor Donizete desenvolveu cálculo coraliforme e por conta disso precisou fazer uma litotripsia extracorpórea. Ele relata que apesar dos acompanhamentos médicos ao longo dos 8 anos, nunca o informaram que ele poderia desenvolver problemas renais, apesar de se mostrar consciente de que sua condição de diabetes favorecia o surgimento desse quadro. Posteriormente a cirurgia ele não retornou a desenvolver problemas renais, entretanto atualmente ele realiza a hemodiálise. 

Ao longo de todas essas questões de saúde ele relata o sofrimento da família como uma preocupação dele, ele começou a se enxergar como um estorvo para a família dele, o que o deixava triste, além das várias medicações e procedimentos o cansarem fisicamente. O senhor Donizete relata ter tido histórico de depressão também, nesse meio tempo que ele estava internado ele foi acompanhado por psicólogos e psiquiatras e, com isso, foi melhorando progressivamente. Recentemente fez um ajuste da dose dos medicamentos psiquiátricos com um médico que ele pagava por fora do IMIP e começou a se sentir melhor. 

Por fim o senhor Donizete relata que o saldo do transplante foi positivo, mas ultimamente tem sofrido com uma lombalgia, os médicos relataram que será necessário um procedimento cirúrgico para melhorar, porém por enquanto está tentando fazer o controle da dor com medicamentos porque no hospital em questão não tem o médico necessário para tal procedimento. 

O paciente não sabe nada sobre o doador e não tem curiosidade de saber, porque acredita que é uma responsabilidade, é um vínculo que iria ser criado e ele queria estar focado na sua melhora. 

Com relação a dúvida acerca de herdar as características do doador, o senhor Donizete mostrou não ter tido expectativas quanto a isso, mas por conta da sua religião (espírita) ficou se questionando se teria alguma lembrança do doador, mas não teve. Por fim, o senhor Donizete diz que incentiva quem precisa do transplante a fazer porque sua perspectiva e qualidade de vida melhoraram significativamente. 

Agora o senhor Donizete tem expectativas de completar a faculdade de direito, que falta apenas 1 ano, prestar o exame para a OAB, podendo, assim, homenagear seu pai, que não aprendeu a ler e a escrever, e oferecer uma estabilidade financeira para a família dele. Tendo dito isso, o coração já não é mais uma preocupação para ele. Além disso, ele se diz disposto a enfrentar o transplante de rim, caso seja necessário.

Diagnóstico – Miocardiopatia Isquêmica

Idade ao ser diagnosticado –  35 anos

Idade ao sofrer o transplante cardíaco – 40 anos

Idade ao ser entrevistado – 44 anos

Elindinaldo conta que tem 44 anos e fez o transplante aos 40 anos, assim, dia 21 de julho fazem 4 anos do transplante, ele conta que durante esse tempo não teve nenhuma internação. Porém, anteriormente, sua história com o transplante começou em 2013 quando ele teve uma baixa arritmia e foi quando ele ficou ciente de que tinha uma insuficiência cardiorrespiratória grave, a partir disso o senhor Elindinaldo teve três episódios de internação no hospital Agamenon, lá ele conheceu uma médica que indicou o doutor Rodrigo, então ele o conheceu no hospital do IMIP e começou a ser tratado por ele. O médico optou por colocar o marcapasso no senhor Elindinaldo, o procedimento ocorreu tudo bem, porém seis meses depois, começou a oscilar e baixar demais os batimentos, foi quando ele recebeu a notícia de que teria que fazer o transplante, ele imediatamente entrou para a fila de espera. O senhor Elindinaldo esperou por 30 dias e no dia 21 de julho de 2018 ele fez o transplante e relatou estar bem até então. 

Entretanto o período da pandemia foi difícil para ele já que ele não tem um emprego fixo, tendo em vista que o senhor Elindinaldo foi afastado pelo INSS, não tem renda nenhuma nesse momento e diante da sua situação de saúde fica difícil arrumar um emprego porque ele trabalhava como pedreiro, ele tentou mudar de função na empresa porém a empresa não o aprovou ainda assim e ele retornou ao INSS, 6 meses depois ele retornou para a empresa, porém não passou muito tempo (30 dias depois) e ele foi demitido. Ele chegou a procurar um advogado para recorrer, porém ainda assim o INSS o negou duas vezes e ele teve que começar a trabalhar por conta própria como pedreiro.

Senhor Elindinaldo relata que é natural de Recife, porém nesse período do transplante ele foi morar em Gaibú, passando três anos por lá. E agora está morando em Recife novamente. Ele relata que o período em que morava lá era pior para arrumar trabalho, porque quando ele diz que é transplantado tem muita burocracia com relação as empresas que não o contratam. Ele conta que na época era ainda mais difícil porque ele tinha o dever de pagar pensão para uma filha que era de outro casamento, a mãe dele o ajudava a pagar essa pensão já que a mãe da filha dele já tinha ameaçado entrar na justiça por conta disso, porém recentemente quando ela completou 18 anos ela falou que ele não precisava mais pagar tendo em vista sua condição de desemprego, depois disso ele ficou mais aliviado.

O senhor Elindinaldo não é mais casado, ele relata que toda essa situação de afastamento pelo INSS, desemprego e dificuldades financeiras acabou abalando o casamento dele, ele era casado há 8 anos e acabou se separando, nessa separação a ex-esposa ficou com a casa de Gaibú. Ele relata que a época da separação foi difícil, porém atualmente está melhor. Elindinaldo é uma pessoa tranquila e prefere aceitar a separação a viver em pé de guerra com a ex-esposa.

Elindinaldo estudou somente até a quinta série e relata como isso afeta sua vida, porque no ultimo prédio em que ele trabalhou como porteiro, era apenas uma portaria para controlar as quatro portas do condomínio e demandava algum conhecimento tecnológico, que ele não tinha. Ele relata que começou a trabalhar muito pequeno (com 10 anos) de ambulante, isso porque em uma tentativa de assalto o pai dele foi assassinado e ele ficou apenas com a mãe dele e os 10 irmãos. Posteriormente, quando estava mais velho, começou a trabalhar ajudando a lavar peça de carro, trabalhou também em uma empresa de limpeza, ainda morando com sua mãe. Nessa época sua saúde era normal, até 2013 quando ele veio a passar mal.

Na manhã de 31 de dezembro de 2013, Elindinaldo saiu pra fazer compras com a irmã e começou a sentir falta de ar no mercado, foi quando ele foi pra UPA, fez exames e foi transferido para o hospital Agamenon, onde fez exames e realizou o cateterismo. Nesse momento a suspeita era de doença de Chagas, porém logo em seguida descobriram que foi uma inflamação no coração que causou a insuficiência respiratória e não uma doença de chagas. Ele passava mal enquanto estava fazendo atividades de médio a grande esforço, ele passou 7 dias na UTI e mais 7 na sala de repouso após o procedimento, logo em seguida, quando voltou a trabalhar (por 1 ano e 4 meses), até voltar a passar mal novamente, com uma falta de ar intensa, dor nos braços, chegava a perder a voz, apresentava tontura, próximo de chegar a uma síncope. Foi quando ele precisou retornar ao hospital e ficou na UTI novamente, após sair ficou um mês em casa, até precisar retornar a UTI do hospital Agamenon. Após essas intercorrências o senhor Elindinaldo não voltou a trabalhar, foi o momento em que ele foi encaminhado para o doutor Rodrigo, o médico analisou as suas condições de saúde e avaliou como grave, contando da necessidade do transplante, diante dessa informação o senhor Elindinaldo ficou bem triste, pois naquele tempo ele imaginou que fosse ficar cada vez pior de saúde, porém atualmente ele se sente bem melhor fisicamente e toma menos medicamentos que antes (apenas três medicamentos, dentre eles o Tacrolimus). Nesse meio tempo o senhor Elidinaldo se sentia com medo também, pois sua situação de saúde também estava agravando, a sensação de mal estar que antes vinha diante de condições de atividade de médio a grande esforço, naquele momento vinha até sentado em repouso. Nesse momento ele conta como o apoio da esposa foi importante (na época eles ainda não eram separados), ele passou 45 dias internado no IMIP e ela o acompanhou nessa internação e ajudava a marcar e a buscar exames que ele precisava fazer. 

Diagnóstico – Miocardiopatia Isquêmica

Idade ao ser diagnosticado –   36 anos

Idade ao sofrer o transplante cardíaco –  40  anos

Idade ao ser entrevistado –   59 anos

Maria do Carmo inicia a entrevista expressando sua paixão pela vida, afirmando: "Eu ando arrumada porque eu gosto de viver." Era técnica de enfermagem e sempre amou seu trabalho, mas em 2000, ao se preparar para uma cirurgia plástica, começou a sentir um cansaço que, a princípio, atribuiu aos plantões. Após alguns exames, foi diagnosticada com Insuficiência Cardíaca. Não seguiu corretamente o tratamento inicial com as medicações e, com o tempo, sua condição piorou. A falta de ar se intensificou a ponto de impedir que ela dormisse deitada ou comesse sem se sentir cansada.

Nos anos que antecederam o transplante, foi internada duas vezes no Pronto Socorro Cardiológico de Pernambuco Prof. Luiz Tavares (PROCAPE) e sofreu um derrame em 2015, sem sequelas. Ela enfrentou diversos desafios, como não conseguir comparecer a eventos familiares por causa da severidade da sua falta de ar e do inchaço, que dificultavam até o banho. Lembra como gostava de piscina e praia e conta sobre uma tentativa de ir ao clube para nadar, mesmo com todas as limitações que os seus sintomas traziam, pois era um lugar em que se sentia bem. Porém, esta tentativa quase resultou em um sério acidente:  "Quando eu mergulhei, para eu subir... Cadê o ar? 'Meu Deus, vou morrer aqui.' Fiquei na beira da piscina, encostada... Com um medo tão grande de morrer." Depois desse acontecimento, chegou em casa passando muito mal e no dia seguinte foi socorrida para o PROCAPE, onde seu médico assistente falou que precisaria colocá-la na fila de transplante.

Receber a notícia de que precisaria de um transplante foi um grande choque para Maria. Ela temia que, ao trocar de coração, se tornaria uma pessoa diferente, mas a interação com pessoas que passaram pelo processo ajudou a acalmá-la. Transferida para o Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP), Maria ficou internada por 6 meses devido à gravidade de seu estado. 

A experiência de esperar por um novo coração foi angustiante. Durante o internamento, além de estar muito inchada e não ter fôlego para conseguir falar, o seu coração batia cada vez menos e a única coisa que Maria pensava era que o fim estava próximo.

Seis meses depois, o que para ela foi um tempo curto, o transplante ocorreu após uma primeira tentativa frustrada com um coração inadequado. A cirurgia foi bem-sucedida, mas Maria passou um mês em coma, a recuperação foi difícil e a vida chegou  a perder o sentido para ela. 

A UTI, com suas limitações e desconfortos, a fez chorar e se angustiar diversas vezes. Exatamente esses períodos na UTI , depois, na enfermaria e a impossibilidade de realizar suas vontades mais simples, fizeram Maria refletir e para ela o ato de beber água e de se alimentar segundo a sua vontade ganharam novos significados. Deixa um conselho: "Coma o que você se tiver vontade, entendeu? Beba muita água. Você tem que viver", "Eu mudei muito meu pensamento, minha vida em relação a ver as coisas, o mundo diferente. Dar mais valor às coisas porque só sabe quem passa pela situação."  Maria ressalta como o suporte familiar e psicológico foram fundamentais para ela conseguir superar isso e, agora, tornar-se grata pela vida.

Após um ano de hospitalização, Maria teve alta, mas precisou retornar para novos exames devido a suspeitas de rejeição ao coração, pois ficou tão eufórica com a notícia da alta que esqueceu de tomar as medicações e começou a passar mal. A recuperação envolveu mais três meses internada e passou as festas de fim de ano e seu aniversário no hospital. Apesar das dificuldades, Maria ama viver e é grata por tudo.

Sobre o seu doador, Maria sabe pouco e diz que a princípio tinha interesse de conhecer a família, mas depois perdeu essa vontade

Hoje, embora a hemodiálise que realiza três vezes por semana a entristeça, Maria continua otimista e tem fé de que não precisará de um transplante de rim. Ela faz o melhor para tornar os procedimentos suportáveis, ela diz: "Tem que ter força de vontade, ter fé. Às vezes eu saio dançando, as meninas ficam rindo."

Maria conta com o apoio da sua mãe, filhas, sobrinha e marido. Gosta de se divertir indo ao shopping e saindo de casa. Sobre o futuro, tem planos de voltar a trabalhar dentro de suas limitações. 

Dona Maria reconhece que sua história teve um desfecho muito melhor após o transplante e incentiva que todos que precisarem façam: "Faça! Tenha fé que vai dar certo". Toda sua família é doadora de órgãos, pois sabe da importância desse ato que pode mudar a existência de outra pessoa.

Diagnóstico – Miocardiopatia Isquêmica

Idade ao sofrer o transplante cardíaco – 41

Idade ao ser entrevistado – 44 anos

A entrevista inicia com Oswaldo falando que a vida após o transplante e a alta ficou normal, fora os cuidados com as medicações que precisa ter. Além disso, relata que sai para passear, ir à praia, se divertir e ver os amigos sem bebida alcoólica, mas que não trabalha mais. Fala também sobre viajar e não poder passar muito tempo pois precisa fazer a hemodiálise 3 vezes na semana, a única coisa que o impede de ser um “menino novo”, como se refere após o transplante cardíaco.

O entrevistador o questiona sobre saber alguma coisa a respeito do seu doador e relata não saber nem conhecer nada a respeito, e que chegou a perguntar para o médico que o acompanha, que disse para deixar pra lá e não se preocupar com isso. Diz que não pensa sobre isso, que está com um órgão de outra pessoa que morreu, está funcionando e que agradece ao doador e pede a Deus para “o colocar onde ele mereça”.

Relata sobre a união com sua companheira Dolores, que ocorreu durante o processo do transplante. Ela era sua vizinha desde a adolescência, mas só depois de adulto e depois do seu divórcio que foi acontecer de ter o interesse por ela, e vice versa. Diz que estão se dando bem, mas que ela é “doida”, que os médicos mandaram ela procurar um psiquiatra, que há momentos que ela tem certas paranoias, fora isso, quando ela está tranquila, está tudo bem. Oswaldo diz que só soube dessa questão depois de entrar no relacionamento, se fosse antes, “não entraria”, mas agora já está envolvido. Em relação à vida após o transplante, diz que está boa, na questão da intimidade até melhorou, pois antes estava fraco. 

Fala um pouco sobre o gosto por futebol, torcedor do Sport e gosta de ir em jogos no campo, mas evita jogos grandes por conta da confusão, mas que gosta e vai com a filha, assistir e se divertir.

Quando o entrevistador lhe pergunta sobre futuro, ele relata que não vê muita coisa para seu futuro, pois não pode mais trabalhar com a sua profissão de mecânico de automóveis, por ser algo muito pesado e exigir muito esforço, coisa que após o transplante não é recomendado ao paciente, e que vai levar a vida devagar como está. Diz que sente falta do trabalho, que se aposentou com 1 salário e, enquanto trabalhava ganhava de 2 a 5 mil a depender, em uma oficina que era própria, que dava pra viver melhor e tranquilo. Além disso, gostava do que fazia pois trabalhava desde os 16 anos e diz que foi muito ruim parar de repente, se acostumar foi muito difícil, tanto na questão financeira quanto no ter de ficar em casa sem fazer nada.

Ele relata que está fazendo um curso de Refrigeração no Senai, para sair de casa e da rotina e interagir com outras pessoas, e quem sabe, no futuro, fazer um serviço para complementar a renda, mas sem exagerar.

Oswaldo relata também sobre a espera de um transplante de rim, que ainda não tem previsão, e tem muita gente na fila. Relata também sobre ver muitos casos de transplantes que não tiveram sucesso, acreditando que o transplante de rins “dá muito errado” e pensa em não fazer, pois teme ficar debilitado e até morrer. O entrevistador o pergunta se, caso tivesse um rim compatível no momento da entrevista, se ele faria e a resposta é não. Diz que, caso sua situação piorasse no futuro, e dependesse do transplante para sobreviver, talvez arriscaria, mas atualmente, enquanto faz e resolve tudo de forma independente, vai onde quer, seu pensamento é contrário ao transplante.

O entrevistador o questiona o que diria a uma pessoa que está na fila para o transplante de coração, e ele diria para a pessoa ter fé e fazer, pois viu muita gente que fez e ficou melhor, apesar de haver casos em que as pessoas não resistem, vale a pena, se a pessoa estiver muito ruim mesmo, que faça. Fala também dos médicos e toda a equipe, que são muito bons e competentes.