Cuidado Individual dos Profissionais de Saúde

Espontaneamente muitos participantes relatam que sempre foram muito bem recebidos e atendidos, e tiveram sempre o apoio dos vários profissionais envolvidos no cuidado de pessoas com hanseníase tanto no Rio de Janeiro como em Porto Velho. Apenas uma exceção se deu, como nos relata Vera Lúcia que se sentiu prejudicada com relação à cirurgia da mão, que era necessária a seu ver como parte do seu tratamento. Ela considerou que a atitude dos profissionais se deu por discriminação a ela, mulher, de mais idade, pobre e negra. 

Por vezes, além dos profissionais, as instituições são claramente reconhecidas como uma fonte de amparo para os participantes, portanto alvo de elogios nas narrativas. O tratamento para hanseníase é todo ele feito no SUS - sistema público de saúde.

Minha confiança nos médicos estava, sabe? De dizer assim "não, eu tô bem amparado", os médicos mostram boa vontade, interesse no tratamento, que eu via, muita boa vontade, muito amor naquilo que estavam fazendo. Graças a Deus deu um resultado muito mais além daquilo que eu esperava, eu pensei de ficar com muitas sequelas.” (Fábio)

 

A arte terapeuta me ajudou bastante nisso também, porque ela me dava uma força, ela falava ‘você tem que parar de pensar na dor, pensa em outra coisa, pensa no desenho que você vai desenhar’, então ela me deu muita força também. Ela, a Mabel [fisioterapeuta] e a Dra. Kátia [médica]. Essas três pessoas que fizeram parte dessa história minha. Me ajudaram.” (Izaías)

 

“O Doutor Iroci tinha..., e ele fez. Fez a minha cirurgia. Meu pé não tá dos piores porque ele segurou. Era um gênio mesmo. Ele fez. Fez e os fisioterapeutas daqui que também tinham boa vontade, fizeram a minha fisioterapia aqui, naquele ginásio grande. Subia escada com eles ali orientando, andava em cima de colchões, no espelho, fazia caminhada com obstáculos [...] fazendo aqueles exercícios, hoje em dia eu tenho 68 anos e tô andando.” (Vera Lúcia)

 

essa história da mão, a cirurgia da mão não teve uma resposta pronta, uma resposta boa, como teve a do pé. Aí isso foi muito triste, muito angustiante. Quando o médico diz assim ‘Eu não vou fazer’, aí eu me sinto estigmatizada pela idade, porque eu já tenho essa idade, pela cor, porque sou negra, afrodescendente, pela pobreza, porque eu não sou rica, eu sou pobre, a gente economiza, controla, mas eu sou pobre, eu não tenho é, é, condições, a gente não é miserável, mas nós somos pobres. E, pelo sexo, porque sou mulher, porque os homens, eu percebo que os homens conseguem mais que eles façam, assim, a cirurgia dos homens, e as mulheres brancas também conseguem mais rápido, mesmo sendo idosas, mesmo sendo pobres, as brancas vão e eu, negra, fico.” (Vera Lúcia)

 

“Até aqui mesmo o Vanderlei [enfermeiro] me conforta demais, quando eu fico com medo dizendo que eu não tive cura, que a doença voltou... Porque basta eu sentir uma dorzinha e a gente tem logo medo. E ele fica até sorrindo de mim: ‘Deixa, larga mão de ser besta. Que besteira é essa? Tu não tá vendo que tu tá curada? Que besteira.’ Quando eu venho aqui me consultar com os médicos aqui e eles... Eles me..., assim, sabe, é como se pegasse a gente e balançasse a gente assim: ‘acorda, isso já passou, não tem nada a ver, vai pra frente’. Então você tem uma certa recaída, muito esporadicamente, mas você tem.” (Marizélia)

O reconhecimento das instituições públicas de saúde está presente na narrativa de participantes do Rio de Janeiro e Porto Velho. 

Eu sei que pra muita gente é mais difícil, tem gente que não aceita. Mas, no meu caso, eu acho que eu fui tão bem acolhido na FIOCRUZ, essas coisas que, e pelos meus pais e irmãos me darem muita força, até meu próprio meu chefe, eu não tive esse problema de vencer a doença, e conviver com as sequelas.” (Marcos) 

Dependemos do SUS, e graças a Deus por isso, pra ser sincero, graças a Deus por isso. Eu não tenho nada a falar, mesmo dependendo do SUS. Não tô falando mal. Nesse hospital aqui (HUCFF), eu fui muito bem recebido, então não tenho nada a falar, fui muito bem recebido. Onde eu moro me acolheram muito bem, me trataram muito bem o pessoal lá, até hoje eu encontro essas pessoas, que saíram algumas e ficaram outras em troca de prefeito, tem pessoas lá que, na época, me acolheram muito bem, então eu agradeço muito, e aqui também.” (David)

 

E o pessoal aqui sempre me atenderam, podem falar o que quiseram dos hospitais do governo, mas comigo sempre me atenderam bem, graças a Deus. Até os fisioterapeutas Dra. Gorete, o Dr. Mario, Dr. Ronaldo, o fisioterapeuta aqui do Oswaldo Cruz velho, era um prédio que parecia uma estrela, sabe. [...] É o Oswaldo Cruz, que cuidou do meu tratamento cem por cento, se faltou uma vírgula isso não vem ao caso, outro foi lá na federação dos deficientes do estado de Rondônia, que eu me afiliei lá. E lá, em 2014, a presidenta que é a Telma, que é deficiente também da perna, me arrumou um emprego em duas empresas como aprendiz pra não perder o benefício. Então eu posso dizer o que de uma associação dessa? Só posso colocar o negócio pra cima!” (Antônio)

 

O senhor teve o apoio de quem?

Do hospital Santa Marcelina.” (João Ferreira)