3.4 Relacionamento com profissionais

Temas

A relação entre profissionais de saúde e pacientes internados com Covid-19 grave  é um tema muito importante de ser considerado, haja vista seu impacto imediato no tratamento, recuperação e bem-estar do paciente. O cenário de guerra orquestrado pelas condições precárias dos equipamentos de saúde, o pânico social e o colapso nas CTIs provocado pela pandemia foi amplamente reportado pelas mídias, aumentando ainda mais a insegurança da população. De modo geral, os pacientes internados no SUS relatam uma relação de confiança e cuidado com os profissionais da saúde e destacam a atenção e dedicação das equipes de enfermagem, médicos e técnicos, bem como a insistência em proporcionar momentos de lazer e entretenimento, mesmo em meio às dificuldades impostas pela doença. Os pacientes elogiam a preocupação dos profissionais com o bem-estar físico e emocional, ressaltando que isso contribuiu para o sucesso do tratamento. 

As falas dos pacientes mostram como os profissionais de saúde desempenham um papel essencial no cuidado e recuperação dos pacientes, além de ressaltar a importância do apoio emocional e psicológico durante o tratamento. Nos depoimentos a seguir, é evidente a gratidão e reconhecimento pela equipe de saúde. Destaca-se a excelência, a dedicação e o carinho de todos profissionais, desde as enfermeiras até o pessoal da limpeza. Essa atitude humanizada e acolhedora contribuiu para o bem-estar emocional, aumentando a confiança no tratamento. Outrossim, a sensação de tratamento exclusivo e diferenciado, "como alguém da família", é lido como um prestígio, como ilustra bem a fala de José Luiz.

"Todo mundo muito bem, cuidaram muito bem de mim. Desde as enfermeiras, até o pessoal da limpeza, entendeu? O pessoal que me dava banho, me dava tudo, me arrumava, entendeu? Que ia comer, aí eu não queria ir naquele negócio para fazer xixi, mas elas davam um jeitinho, botava fralda. Muito boa a equipe, entendeu? Então, graças a Deus, parabéns lá, sempre foi um pessoal muito bom."   (Vera Lucia do SUS)

 

"Por mim, a situação que eu vivi, eu acho que eu não mudaria nada, viu? Porque pra mim o atendimento que eu tive foi um atendimento de excelência, eu me sentia ali numa instituição pública, onde a gente, servidor público, é tido como quem não trabalha, entendeu? Como quem ganha e trabalha pouco, tem aquela má fama, entendeu? Mas eu não tenho nada que falar e mudar sobre o atendimento que eu tive e o que eu vi nas outras pessoas, porque foi feito ali o que era do momento, o que aquele momento permitia. A equipe ali, não só enfermeiro, técnico, médico, fisioterapeuta, entendeu? Todos, assim, uma dedicação completa, completa, completa. Eu não vi nada de que pudesse assim 'ah tem que mudar isso'. Eu não vi, no tempo que eu fiquei, eu não vi uma discussão da enfermagem, uma coisa que a gente vê todo dia. É não, é na verdade, eu não vi, eu acho que não dava tempo, não dava tempo. Então, eu não mudaria nada."  (Carlos Eduardo do SUS)

 

"Quando, da maneira que me trataram, eu não esperava, foi sobrenatural, além, muito além do profissionalismo. Eu creio que um profissional, só por ser profissional, porque eu também tenho o meu trabalho, eu faço, eu tenho os meus limites. E o fato de eu delimitar desde o início que eu tenho amor pela minha profissão. Então, como eu tenho amor pela minha profissão? Eu sei, eu sei quando a pessoa trabalha dentro do ambiente que ela gosta e o que ela faz, porque quando a gente está no ambiente que a gente gosta, a gente faz além, entendeu? Então fui muito bem tratado, porque as pessoas que estavam ali amam o que fazem e por isso eu não estou falando que eles fizeram além, porque amam. Fazem por amor à profissão, não só pelo paciente. Pelo amor à profissão deles e pelo prazer de ver o serviço bem feito. Eu vi, foi isso. De maneira nenhuma, nenhum tratamento fora do padrão."  (Sérgio do SUS)

 

"Aí me transferiram pra aqui pro fundão, uma santa pessoa que me recebeu aqui no fundão foi uma senhorinha, que eu chamo de senhorinha, pelo respeito ao fator idade que ela tem, uma médica que tava tirando plantão naquela terça-feira à noite, na segunda-feira à noite aliás, desculpa, em que ela me tratou como se fosse um membro da família dela, isso aí foi normal aqui, foi normal aqui nesse hospital, ser tratado com educação, com prestígio. Um detalhe interessante que ela me seguiu, toda vez que ela tava de plantão, que eles se dividem no CTI, cada qual toma conta de três, quatro pacientes. Toda vez que ela tava de serviço, ela dizia pra mim “seu José tá comigo”. [...] Então me tiraram do meio da enfermaria e me botaram na janela, me botaram no leito da janela, e fizeram aqueles tapumes, me cercando. Eu fiquei blindado, fiquei blindado, fui muito bem tratado. Eu via o que estava acontecendo na enfermaria, estava no CTI, não podia sair da cama. E olha, diga-se de passagem, chamar uma mocinha igual a vocês, de repente “moça, eu tô sujo”, no começo era vergonhoso, sentia, dava aquele negócio estranho. Aí depois, elas mesmas me botaram consciente de que ali, toda vez que eu chamava elas, eu tava chamando uma pessoa que queria me ajudar. Aí me trouxeram para o lado da janela, com consciência de que eu não estaria inconsciente, né?"  (José Luiz do SUS)

 

"Tem um detalhe, enquanto no CTI, tava muito difícil pra mim ficar sozinha, eu não queria ver televisão, as enfermeiras foram fantásticas o tempo todo, e a alegria quando a enfermeira ela é humana é fundamental pra vida da gente, eu sai do CTI porque uma enfermeira no domingo de faustão queria ligar a televisão no meu quarto “eu falei não,  eu não aguento ver televisão, cada vez que vejo uma notícia de covid quando aparece o número de mortos, eu vejo ali mais um, eu não quero ver televisão”. E ela insistiu pra eu ver que era o Faustão, e eu Deus me livre não aguento o Faustão, mas hoje tá a Ivete Sangalo, ta o "arraiá da veveta”. Ah, então vamos ver, ela ligou a televisão. E aí, começamos a ver ela cantando algumas músicas, e daí ela cantava a música e eu sussurrava aqui do lado me fazendo companhia e eu comecei a mover esse braço só a única coisa eu conseguia mover no ritmo da música, acabou terminou o Faustão eu falei, “agora desliga porque agora vai começar as notícias de covid e eu não quero saber as notícias de covid”, daí ela desligou e puxou assunto de escola de samba ai eu peguei e sussurrando, ai eu falei “eu sou mocidade independente de padre Miguel”, ai ela falou que tinha saído em escola de samba e tudo mas eu sou simpatizante da beija flor, eu gosto da beija flor também, aí ela começou a cantar um samba da escola de samba dela lá, puxa um canto da mocidade, eu sussurrando imagina só a cena, ai eu comecei “estrela de luz, que me conduz, estrela que me faz sonhar”, ai ela puxou e foi cantando, ela começou a sambar no CTI imagina a cena, ali do meu lado que era um quartinho com porta isolada, ela ali sambando e eu com essa mão aqui cantando e sussurrando com ela. Só aqui com mão aí outras enfermeira viram pelo vidro que tava tendo um samba lá foram andando, daqui a pouco estavam sambando no meu quarto, ai tudo bem acabou ali tem outros pacientes nos outros quartos aquela coisa encerramos a festa e foi embora. Então assim, é eu digo que quem me expulsou do CTI foi essa enfermeira que puxou o samba no meu quarto a partir dessa insistência dela, dessa alegria todo mundo ficou sabendo e foram no meu quarto me perguntar sobre viagem, sobre as coisas que eu gostava, foram descobrindo as coisas e vinha puxar assunto, elas queriam que eu interagisse e foi o que aconteceu. dois dias depois, eu tava no quarto quando eu fui pro quarto, a minha felicidade era tão grande que eu só brincava o tempo todo."  (Maria Verônica)

 

Os depoimentos ressaltam a confiança depositada nos profissionais de saúde e a sua fé em Deus durante a internação. Os pacientes acreditam que a equipe médica fez o melhor tratamento possível e que a sua recuperação é uma prova disso. As falas mostram como a relação de confiança e respeito entre profissionais e pacientes é fundamental durante o tratamento, especialmente em casos de doenças graves.

"Eu confiei completamente no que os médicos estavam fazendo, acreditei sempre que eles iriam me dar sempre o melhor tratamento possível. Confiei plenamente nisso e acho que realmente foi o melhor tratamento, até porque eu estou aqui para dar esse depoimento, então eu realmente acreditei muito na equipe médica. Sempre confiando em Deus, que também é Ele que iria dar a perspicácia e a sabedoria para a equipe médica agir da melhor forma possível para tentar realmente fazer o procedimento certinho. Então não foi nem... Eu acredito que não é que a equipe ali ela não tenha me dado alguma opção, é porque eu realmente não fiquei questionando." (Michael Douglas do SUS)

 

"A que cuidou de mim na reabilitação, a Ana e essa, Gleici. As duas fisioterapeutas estavam juntas. Eu até falei com elas: "pô, só Deus mesmo". Ainda bem que vocês estavam ali, né? Aí uma ficou bombeando com.. esqueci o nome que dá, aquilo manual, né? E a outra foi buscar um tubo, para trocar lá. Aí botou, o primeiro que ela trouxe não funcionou, aí foi buscar outro."  (Ademir do SUS)

 

"O médico fez tudo que ele podia fazer. Eu acho que se eles não fizessem o que fizeram, não sei se daria certo. Ou se daria… eu sei que eles faziam tudo que tinha que fazer. Se tivesse que te cortar, intubar, eles iam fazer. Era médico chamado de madrugada se você estivesse precisando de uma avaliação imediata, eles vinham. Não tinha hora, não tinha tempo, não tinha nenhum empecilho, eu não vi nada. Eu realmente fui muito bem tratada." (Kátia Verônica do SUS)

 

Já a experiência relatada pelo participante 3 mostra como a arte pode ser um instrumento terapêutico durante a internação. O estímulo à pintura, mesmo que inicialmente ele não conseguisse segurar o pincel, foi uma atividade que lhe trouxe esperança e alegria, resgatando um talento que lhe era caro. Esse exemplo mostra como a atenção às singularidades e necessidades particulares dos pacientes em momentos de extrema vulnerabilidade podem trazer bem-estar e esperança em contextos hostis como o de uma CTI.

"Tem uma coisa interessante:  eu pinto. No hospital, eu tive uma experiência muito forte que me deu muita esperança, foi quando as meninas chegaram para mim, os profissionais da área, e trouxeram uma tela para eu pintar. Só que eu não conseguia segurar o pincel. E assim mesmo elas insistiram e a minha raiva no momento era largar tudo e não fazer,  mas houve uma insistência por parte delas. Eu consegui pintar uma tela aqui dentro. E aquilo mexeu comigo, porque a pintura é uma coisa que eu amo muito. E eu pensei que tinha me sido roubado esse talento."  SUS - JANILDA 

 

Outro aspecto valorizado pelo paciente submetido a longos períodos de internação e pobre oferta de estímulos sociais diz respeito a detalhes em autocuidado e higiene pessoal, o que depende totalmente da sensibilidade e disponibilidade do profissional responsável pelos seus cuidados, mas que são apreciados pelos pacientes.

"Desses vinte e seis dias que eu fiquei de isolamento, eu escovei dente acho que duas vezes. Pentear, lavar o cabelo, nada. E pentear, foi no dia que desceu duas técnicas do CTI, que desceram, como elas já estão mais acostumadas com esse cuidado de leito, de tudo… De manejo de cuidar de paciente que tá acamado o tempo todo, aí uma conseguiu desembaraçar meu cabelo, aí falou ‘eu consegui, agora você faz trança nela, porque eu não consigo’. Foi quando pentearam meu cabelo." (Maristela do SUS)

 

"Ela gravou eu saindo do CTI. A minha barba grandona, o cabelo, barba grande. Aí uma enfermeira tentou me emprestar um prestobarba quando eu tava prestes a sair. Ela não conseguiu, aí teve uma enfermeira lá chefe, que falou "não, você não vai sair daqui assim não, vou dar um jeito". Aí saiu, e daqui a pouco volta com o prestobarba e com espuma, e fez minha barba todinha. Só ficou um bigodão igual o de mexicano." (Ademir do SUS) 

 

Não faltaram exemplos de empatia de pacientes em relação ao intenso sofrimento, stress e exaustão dos profissionais de saúde em sua incansável tarefa de salvar vidas. Nesses ambientes de privação social, as expressões dos profissionais de saúde não escapavam à observação dos pacientes, como exemplifica a fala de Carlos Eduardo.

"Mas no CTI com certeza foi, com certeza ele afetou muito, entendeu? Porque eu sofria vendo aquilo, eu sofria vendo os colegas e você via no semblante, não faziam as coisas em você, às vezes atrasava um pouquinho, e eu falava "não, tá tranquilo, calma, relaxa, eu sei que tá difícil, eu sei, eu vi a maneira como vocês estavam trabalhando”. Então, aquilo ali realmente impactou muito." (Carlos Eduardo do SUS)

 

A empatia foi um traço valorizado pelo paciente na sua interação com o profissional de saúde, como se constata na fala a seguir.

"Tive, a Dra. Mayla e a Dra. Nati, que são assim umas fofas maravilhosas, mas são muito assim. Eu não tenho nem palavras para descrever como elas são. É um coração tão gigante, é uma paciência, é um tato tão bonito de conversar, se colocar no lugar do outro, porque assim não adianta você se formar, ser médico, psicólogo, enfermeiro, se você não tem jeito com pessoas, você tem que ser humano, você tem que se colocar no lugar daquela pessoa. Um dia ele é seu paciente, outro dia você pode ser o paciente dele, então assim, elas se revezavam cada dia e uma, e o meu médico fazia as consultas comigo."  (Juliana)

 

Naquele momento de auge da pandemia, caracterizada pelo excesso de cuidados no intuito de evitar a contaminação, tais como a rigorosa paramentação e o distanciamento físico,  foram responsáveis por sensações de privação e isolamento social pelos pacientes internados.

"Eu senti muito isso, mas eu acho também, eu não sei, eu nunca tinha ficado internada, mas eu acho que foi também esse lance do medo do covid, sabe? Todo mundo entrava muito encapotado e toda hora trocava a luva e não encostava em você direito. Eu acho que tudo isso influenciou, sabe? Mas cuidado nenhum, o único cuidado mesmo que eu recebi de carinho, que senti que eu estava sendo cuidada, foi por esse fisioterapeuta, entendeu? Por esse Samuel. Foi o único até que eu sei o nome, porque ele me falou, porque era assim, entrava e ia embora, “mas o que você vai fazer, vai doer?”, “vai, vai doer”. E era assim, entendeu. Eles falavam assim pronto e acabou." (Maria Claudia)

 

O incentivo dos profissionais de saúde para manter a motivação do paciente internado foi avaliado como um aspecto positivo, ainda que fossem apenas gestos simples. De pequenos a grandes detalhes na interação personalizada foram valorizadas e associadas a melhoras no tratamento.

"E eu lembro que os médicos, os enfermeiros, a psicóloga, a fisioterapeuta, eles foram muito importantes no tratamento porque eles falavam: “não se deixe levar, levanta dessa cama”. E, assim, eu péssima."Como assim levanta dessa cama, né?" “Levanta e não se entrega!”. Então eu comecei a fazer isso e eu acho que isso me ajudou muito, muito mesmo. Às vezes, a gente estava com paciente e não se sabe a importância de motivar eles para levantar e não desistir. Então, foi com a fisioterapeuta... Às vezes ela deu uma bolinha lá, para soprar, coisa, assim, que é fácil, mas naquele momento aquilo era difícil demais! Nossa! Era muito difícil acertar uma bolinha! Eu não acreditava. Eu falava: "gente o que que é isso? Eu não consigo acertar isso!". Ela falava: "calma, é aos poucos!" E aí eu fui,  dando aquela aceitação."  (Glauciane)

 

“Enfermeiros, técnicos, médicos, os médicos não têm o que falar, achei o tratamento deles muito, muito bom mesmo, humano sem nenhuma diferença, sem medo... os médicos infectologistas não têm nenhum medo de tá tratando uma pessoa com covid, você não vê neles, eles não te mostram, não te passam nenhum receio, pelo contrário, ele te toca, ele fala com você normal de igual pra igual, é assim... você não se sente nem excluído em momento nenhum, como o ser-humano manda ter tanto distanciamento os médicos não têm... os médicos não têm.”  (Bárbara do SUS)

"É, porque você tem uma rotina de visita pela manhã, você tem a rotina de reclamar com a enfermagem e o médico vir, e isso tudo é muito bom, positivo. Você sabe que o tratamento está dando certo, porque se eu não tenho certeza que o tratamento está dando certo, já seria uma coisa pra me desestimular. Ajuda você estar dentro do hospital, estar sendo tratado, você está vendo que não estão fazendo a coisa errada, que está funcionando!? Então é assim, e ainda quando não estavam tendo resultados, eu via a insistência em modificar e buscar, os exames que foram feitos."  (Janilda do SUS) 

 

"Foi chegando um, chegando outro, querendo, querendo saber como é que é. O outro, o mestre que estava de frente lá conversava comigo: "Você está respondendo bem, você está calmo, você vai sair dessa". Aí chegava a… psicóloga né? Vinha, conversava comigo. Dali eu não tenho o que falar, fiquei bem satisfeito mesmo."  (Nelson do SUS) 

 

"Todos os dias, tanto o enfermeiro no plantão, como o médico plantonista, eles chegaram, falavam “ô Carlos, olha,. Desculpa chegar mais tarde aqui, porque primeiro eu fui ver os entubados, com o senhor vou levar outro papo”. Aí sentava do meu lado “Olha, você está melhorando, nós estamos mantendo o antibiótico. Hoje no quinto dia eu vou parar com a azitromicina, vai ficar só o ceftriaxone. você está tendo uma melhora, mas nós vamos programar uma nova TC e tudo, vamos tentando ver uma alta de você para a DIP”. Todos os dias eles falavam o quadro, como é que estava. Sobre os exames, 'olha, era gaso de manhã, e à noite, de manhã e à noite'." (Carlos Eduardo do SUS) 

 

Não faltaram avaliações negativas sobre o preparo dos profissionais de saúde em relação às habilidades técnicas e humanas necessárias ao enfrentamento de uma crise sanitária da magnitude de uma pandemia, sobretudo entre os pacientes internados no sistema privado, que se mostraram mais críticos do que os internados no SUS.

"E essa coisa tipo por ser psicológica tão ruim, porque não existe um processo de desenvolvimento para médicos e assim ter uma comunicação mais empática e mais humanizada. A psicóloga que foi me atender, ridículo. “E aí, tudo bem, como é que você está?” “Você está sendo melhor porque o que importa é botar na mente...”, cara, que idiota! Meu Deus, ela é psicóloga na UTI, botou no papelzinho, ganhou o dinheiro dela, foi embora, sabe? Falta uma coisa mais humanizada, porque eu tinha o céu, o inferno, por exemplo, com esses terceirizados assim. É um rapaz lá, novo, super alegre e feliz. “Vou ficar com você pelas vinte e quatro horas, vou ficar com você. Se você estiver triste, me chame, estou aqui”, super atencioso, o cara foi trocar um acesso e não sabia trocar um acesso. Estava o sangue todo aqui, mas aí, pede alguém para te ajudar, cara, então assim você tem um atendimento técnico, talvez muito ruim. Aí uma senhorinha vinha e era o contrário, ela vinha, ajudava. Então, além da parte técnica, assim, que depende de tempo, de aperfeiçoamento, tem uma parte de comportamento. Não dá para tratar a vida como se fosse um copo d'água, sabe? Não dá. Tanto médicos quanto enfermeiros, quem está ali na linha de frente."  (Augusto)

 

"Primeiro é deixar a pessoa ter contato com o mundo externo. Um celular que seja, um tablet, alguma coisa, isso faz muita diferença. E o próprio modo de cuidar do paciente, de, de ter mais interação sabe, ter um cuidado, um carinho, sabe? Falar um nome “oi, eu sou fulano, vou cuidar de você, vou fazer isso, isso, isso, vai ficar tudo bem”. Não tem. Não teve isso, e eu senti bastante falta."  (Maria Claudia)