4.5 Repercussões financeiras e no trabalho

Temas

Ao parar de trabalhar e realizar suas tarefas cotidianas, alguns dos participantes enfrentaram dificuldades financeiras, problemas em seus trabalhos, no entanto outros participantes conseguiram com que a vida financeira e o trabalho não fossem afetados, dependendo sobretudo da ocupação de cada um.

Alguns participantes contam que durante a internação, a empresa em que trabalhavam deu o suporte necessário e, com isso, não tiveram prejuízo financeiro, como compartilha Marcio: “Graças a Deus foi bem tranquilo, mas assim, nesse sentido de assessorar, de ajudar a minha esposa no que precisasse foi dez, a gente não teve nenhum contratempo, a gente não precisou. Mas se tivesse, a gente tinha a quem recorrer.”  

Luiz também compartilha que sua empresa deu o suporte necessário para sua recuperação e para uma volta segura ao trabalho: “Eu voltei, eu tive alta em março, desculpa, em julho, tive alta em julho e eu comuniquei à Petrobrás que tinha tido alta, e eles falaram para mim que era para ficar em casa. "Não, fica em casa”. Aí eu continuei, mas fiquei do final de julho a setembro. Aí no final de setembro, eu liguei para eles e mandaram ir lá para fazer uma avaliação. Aí fiz a avaliação. Eles falaram para mim, “olha, você está liberado para voltar ao trabalho, mas não está liberado para voltar aqui na Reduc, você tem que continuar trabalhando em casa, em home office”. Aí ele me deu alta para trabalhar em home office, até dezembro. Aí falaram que em janeiro a Petrobrás deverá retornar com o pessoal do trabalho em três ondas. A última onda é dezembro, no final de dezembro todo mundo tem que retornar. “Você só vai retornar no final do ano. No final do ano, volta aqui para fazer uma nova avaliação. Aí se você não tiver condições para retornar ao trabalho, ou nós vamos colocar o home office ou vamos te botar de licença novamente”. Mas eu acho que vão me liberar porque eu vou ter uma movimentação normal, sem nada, tô andando tranquilo.” 

 

Nelson conta que não houve prejuízo financeiro, pois ficou pouco tempo internado e considera sua esposa uma mulher econômica: “Não acho que financeiro… A mulher, graças a Deus, é uma mulher econômica, Oh graças a Deus! Como eu fiquei aqui praticamente um mês ou menos de um mês, não recordo assim na memória. Mas… e ela é uma mulher de  não ficar parada, entendeu? Então acho que assim financeira não me atingiu muito não, que ela lá ela e minha filha em casa, ela que leva minha filha na escola, buscava, eu que faço esse papel, eu fico em casa eu levo e trago minha filha da escola para dar proteção a ela, preocupação de pegar ônibus essas coisas, minha vida corrida com ela. Mas financeira… não.”

Margareth por ser líder de uma igreja junto do marido, não teve suas despesas afetadas pois recebeu o suporte necessário da comunidade: “meu marido é pastor e a nossa igreja deu todo apoio né, e não houve nenhuma complicação, não houve nenhum prejuízo muito pelo contrário né, a liderança da igreja de toda igreja deu um apoio extremo né, foi além do que a gente precisava, então não houve nenhum prejuízo no âmbito financeiro nem de cuidados né fomos bem socorridos.”

Wellington, além de não ter sua vida financeira afetada, conseguia trabalhar do hospital: “E também mesmo que no hospital, hoje em dia, com telefone mesmo no CTI buscava informação, quando eu sai do tubo, naturalmente. Conectava, e do quarto eu já trabalhava de alguma maneira no computador, algumas reuniões assim meio que debilitado, mas assim era importante até para eu me sentir útil no momento mais do que para empresa, era mais  importante para mim, entendeu?

Nesse contexto, Miguel também trabalhou por chamada de vídeo: “Aí, eu passei o mês de maio, mas uma coisa que eu achei muito interessante, eu imediatamente voltei a trabalhar por vídeo, sempre por vídeo. Eu trabalho num clube aqui na Zona Sul e todos os clubes estavam fechados desde março, nós fechamos aqui dez dias antes, quinze dias antes de me internar, e continuei trabalhando.”

Carlos Eduardo também não teve suas despesas afetadas, diz que se considera uma pessoa controlada nos gastos e também não teve custos extras com medicamentos: “Não me afetou não. Eu sempre fui uma pessoa muito controlada, entendeu? Sempre tem a coisa assim, que é da época do meu pai, deixar um dinheiro em casa, a senha do cartão, tem um papel anotado, uma pasta, eu tenho uma pasta lá que eu falo com ela “isso aqui é assim. Isso aqui é telefone da gerente, se acontecer alguma coisa é só ligar, não precisam fazer nada tá?”

 

Roberto compartilha que não sofreu danos financeiros, mas que tem dívidas que paga até hoje, por conta de empréstimos feitos para arcar com as contas depois da internação: “Nós conseguimos com sucesso, prosperidade. Eu tenho dívida até hoje, eu devo muito ao banco, minha esposa também, mas tá tudo dentro de que entra, tá encaixado dentro do nosso [orçamento]”. Para voltar a trabalhar, Roberto diz que a previsão era de um ano, mas que após o primeiro mês sua evolução foi tão positiva que a médica deu alta para ele retornar ao trabalho: “E eu imediatamente, no dia seguinte a minha alta, eu já voltei a trabalhar. Lógico, tinha algumas limitações, tinha algumas de, que era aquelas dores que fica, dores musculares por falta de massa muscular e tal, mas eu fui lidando com isso com muita tranquilidade, fui, eu tava convencido, acreditando que aquilo era normal e tal, e fui indo.”

Outros participantes, por mais que não trabalhassem com carteira assinada, tinham benefícios do governo que foram cruciais para sua manutenção nesse período pós  adoecimento, como conta Vânia: “E eu entrei na Justiça. Então, quando fez um  mês  que  eu tinha saído do hospital daqui da COVID-19, me chamaram que eu tinha um benefício. Eu recebo esse benefício hoje.” 

Márcia Cristina estava a dois anos desempregada quando conseguiu um emprego. Na semana em que recebeu seu primeiro pagamento, veio a ser internada pela COVID-19. E os gastos para internar foram altos: “Então, assim, a minha família já tinha gasto  em  torno de R$ 800,00  só  de  medicação. E fora a ambulância particular que eu nem  sei quanto ficou.” Além disso, após sua alta hospitalar ela tinha sequelas que a impediram de voltar de imediato a trabalhar: “Acho que um mês depois, porque eu lembro de que no primeiro dia que eu voltei, a gente transferiu um paciente desse setor que eu trabalho de alta complexidade para o CTI. Eu lembro que aquela coisa de você passar o paciente de maca, aí leva até o CTI, entubado tudo mais. Quando eu voltei, eu  lembro  que  eu  vim  trazendo  o  respirador  no  meio  do  corredor.  Só segurando  o respirador e  trazendo.  Eu  lembro  que  quando eu  cheguei  no setor  que  eu  trabalho  não  conseguia  soltar  o  respirador  de  tão  cansada. Parecia que ele estava me segurando e eu muito cansada. Aí tive que sair um  pouco  do  setor  para  me  restabelecer.  E  eu  falei:  Nossa,  não  tinha percebido como eu ainda estava cansada. E no segundo plantão que teve uma  PCR.  Voltar  a  fazer  massagem  cardíaca  de  N95  também  foi  muito cansativo.”

 

Vera Lúcia, que ficou internada pelo SUS, diz que seus remédios foram custeados pelo próprio sistema de saúde: “Remédio eu ganho, entendeu? Eu ganho meu remedinho, graças a Deus. O que precisa eu compro, entendeu? Às vezes eu não tenho, você tem que correr atrás de comprar.” 

Janilda tinha uma pensão por conta do marido falecido, o que a ajudou, associado a ajuda dos filhos e da universidade. Mas, ela diz que mesmo assim teve muitos gastos com medicamentos extras: “Mas  assim  mesmo  eu  tive  perdas  porque  a medicação era cara, o Xarelto é caro, o Daflon é caro, uso de fralda, paguei fisioterapeuta que eu não podia vir porque eu fui pra casa da minha mãe em Bangu.”

Viviane conta que recebeu auxílio emergencial: “Tive muito [impacto financeiro]. Eu trabalhava de faxina, eu perdi meu emprego, o meu esposo  também perdeu o emprego dele, então a gente ficou sobrevivendo com o auxílio emergencial, né, que não era muito, porque a gente tinha três filhos. A nossa sorte era que a gente não morava de aluguel na época, mas foi bem complicado, de passar necessidade.” Para lidar com as finanças, ela recorreu à família. Entretanto, ela conta que não conseguiu emprego e sente que foi por conta das sequelas da COVID-19: “Até hoje eu não consegui e eu acho que devido a sequela que eu fiquei no na respiração, né? Porque eu tomo, eu uso  a fórmula do Alenia, o aerolin e o crenil pra respiração, coisa que eu nunca precisei usar. Então,  acho  que  devido  a  isso,  eu  acho  que  eu  também  não posso  nem  trabalhar,  porque  se  eu  caminho  um  pouco,  eu  fico cansada,  se  eu  começo  a  fazer  as  coisas  dentro  de  casa,  às  vezes sem parar, eu tenho que sentar pra parar, fico muito cansada.”

 

Maristela conta que teve ajuda de familiares e amigos para arcar com custos extras: “Quando eu recebi a notícia que eu ia ter que tomar Xarelto duas vezes ao dia, e que era um remédio caro e tudo, aí o pessoal começou a se juntar e mandar  dinheiro, meu sobrinho que tá fora do país mandou.” No mês seguinte, ela diz que sua situação financeira se encaixou e não precisou mais da ajuda de terceiros para comprar os medicamentos, mas se sente grata pela ajuda que teve: “Mas eu, o pessoal, mesmo, eu ia passar sufoco, mas ia ter, mas o pessoal ajudou.”

Alguns pacientes conseguiram permanecer no emprego mesmo após o COVID, porém, com gastos extras por conta de sequelas, como conta Júlio: “O médico me passou duas medicações embora no prazo curto, já está até acabando, mas eu tive um prejuízo financeiro sim, principalmente por causa da diabetes. Estou tendo um gasto de mais de 500 reais por mês, só com remédio. Então isso prejudicou um pouco minha renda familiar, estou deixando de fazer o meu lazer, deixando de fazer, inclusive deixei até de viajar.” 

Juliana, que ficou internada no sistema privado, reforça com sua experiência: “Primeiro, que eu e meu marido nós éramos comerciantes, nós fechamos cinco restaurantes. Segundo, que cada diária da equipe [de saúde] assistente foi 2.500 reais. Então, assim, se foi um dinheiro bem alto, isso além do plano de saúde, porque o plano de saúde cobriu a internação, mas não cobriu a equipe assistente.” 

Camila, ao ser internada perdeu o contato com sua chefe e não conseguia mandar documentos necessários para comprovar sua internação: “Eu já tinha avisado minha chefia que eu ia ser internada e como no hospital, a gente não podia ficar com celular, eu não consegui mais falar com ela.  Eu  tenho  sorte  de  ter  uma  chefe  amiga.  Eu  fui  cobrada  de  uma  série  de documentações  no  meio  da  minha  internação.  E  era  assim,  ou  você  apresenta  a documentação ou você volta a trabalhar! Não tinha meio termo.” Porém, por ter essa boa relação, a chefe conseguiu ajudar Camila para que não fosse prejudicada nesse afastamento. E ela diz que, financeiramente, foi difícil. Ela já voltou a trabalhar, recebendo o mês trabalhado. Entretanto, não conseguiu receber os meses retroativos em que esteve afastada, e não teve maiores gastos por estar morando na casa dos pais.

 

Michael Douglas do sistema público, por ser autônomo, se viu prejudicado financeiramente, pois ganhava por dia trabalhado: “Você trabalhou, você ganhou. Se você não trabalha, não ganha, carro parcelado, então, imagina como é que foi? A família toda se mobilizou para levantar um dinheiro para pagar o carro.” Para não ficar tão prejudicado com as finanças, ele diz que a igreja se juntou para pagar o INSS e ele conseguir receber um auxílio por doença e ainda assim ele não conseguiu receber. Juntando esses diversos fatores, para além das consequências financeiras, Michael conta do seu sentimento de impotência por não poder trabalhar, que foi um fator que o deixou preocupado: “Fiquei muito ansioso porque  você  acaba  se  sentindo  muito  impotente,  mesmo  sabendo  que  eu estava me recuperando de COVID-19, o homem ele se sente homem quando ele consegue trazer o sustento, sabe. Então eu ali em casa, e minha esposa ia fazer os cabelinhos dela, ia para o salão.E  eu: "Cara, estou me sentindo um nada em casa!"

 

Angela foi bastante afetada financeiramente, embora tenha contado com apoio financeiro de terceiros com as medicações pós alta, o período de adoecimento lhe acarretou dificuldades financeiras com impactos na manutenção das necessidades básicas. “Eu não digo muito na minha família porque eu sou mais só, e o pouco que eu consegui foi com a minha irmã, uma parte de medicamento foi com a minha irmã, e uma parte com esse namorado meu que agora foi embora de vez, que foi que me ajudou. Mas até hoje eu tenho muita dívida acumulada, minha luz tá cortada, tá no gato, água tá cortada. E eu vou levando assim. O que eu consigo dá malmente pra comer, é duas crianças, é todo dois de menor, todos dois depende de mim, meu ex-marido tá pelo mundo, sabe Jeová por onde.”

 

Quanto ao sistema privado, vale ressaltar que alguns participantes tiveram gastos extras com contratação de profissionais para reabilitação e com medicamentos extras, o que impactou a vida financeira deles, como compartilha Luiz: “Eu tive um remédio que eles  importaram, que o doutor orientou e perguntou se podia, um remédio bem caro. Acho que  era 11 mil reais. Um negócio desse que boa parte das pessoas não tiveram acesso.  Então isso eu acho que foram as coisas que fizeram a diferença.” 

Henrique contratou um fisioterapeuta: “Eu acho que o ideal seria umas três vezes na semana, mas estava fazendo duas vezes, às vezes uma só, por causa da questão financeira, porque o fisioterapeuta ir em casa é mais caro ainda a consulta, o serviço. Então fomos pagando, fui fazendo fisioterapia." Para custear, a família juntou dinheiro: “Eu fiz pelo menos uns seis meses, eu fiquei fazendo fisioterapia, para ter uma recuperação boa mesmo.” Como Henrique é bombeiro, quando recebeu liberação para voltar a trabalhar ele voltou aos poucos. Estava acostumado a atender socorro, mas está trabalhando no administrativo até sua saúde voltar ao normal: “Eu trabalho aqui em Itaipava, estou desde o período que eu voltei. Eu trabalho na parte de secretaria, no expediente do quartel, a parte burocrática. Mas a minha vida toda foi no socorro, esse período todo que eu sou do Bombeiro.”

Ademir conta que foi complexo. Quando ele internou a família não pagou as contas e isso foi acumulando. Porém, ele diz que sua empresa deu um apoio financeiro a ele. Ele passou a ter custos a mais de medicamentos e também de contratação de profissionais da saúde. Depois de sua alta, ele voltou a trabalhar após oito meses, e nesse período ele conseguiu entrar no INSS e começar a receber. O tempo que ficou perdido, pois sua família não havia dado entrada em sua documentação no INSS durante sua internação p, ele conseguiu receber o retroativo. 

Para além do prejuízo financeiro, alguns pacientes sentiram dificuldades de retomar o cotidiano de trabalho por conta de sequelas pós COVID, como conta Marcelo: “E ai, voltei na primeira semana de junho, voltei  mais  tranquilo, mas  mesmo  assim, longe  de  ser  o  ritmo  que  eu  tinha antes de ficar assim, realmente dedicado, focado, mas eu não sei quanto tempo eu deixei  de  trabalhar  ou  por  causa  da  doença,  é  difícil  assim,  mas  com  certeza  eu senti uma dificuldade ali.” 

Eduardo também relata que teve uma pericardite como sequela e, por isso, teve que trabalhar de forma remota por um tempo até se recuperar totalmente, mas diz que voltar a trabalhar foi algo positivo para ele: “Mas eu voltei, voltei mesmo com pericardite, é claro que já em tratamento, não estava naquela fase mais intensa da doença, já estava em curva de melhora. Mas eu decidi voltar, porque para mim o trabalho é terapêutico, porque quando você está envolvido no trabalho, você não fica remoendo ou com pensamentos focado no problema. O trabalho, ele te ajuda a projetar expectativas, atividades, missões, enfim. Então, isso acaba sendo muito terapêutico, muito positivo, para mim foi.” Ele conta que teve todo o apoio necessário da UFRJ, dos chefes e colegas e isso foi importante para ele.

 

Reneé conta: “Eu trabalhava  em  casa,  só  que  agora  com  menos  frequência,  porque  não aguento ficar muito tempo em pé, não aguento mais, todo o processo que eu fazia de química, que seja demorado alguma coisa, hoje eu não faço mais. Nenhum  tipo  de  química  para  cabelo,  não  faço  mais.  Então  todo  o processo  que  seja  demorado  para  que  eu  fique  em  pé  muito  tempo,  eu  não consigo, devido às dores. Inchaço, minha perna incha muito, além do que já inchava.” Com isso, teve dificuldades financeiras para comprar medicações que o hospital não fornecia. 

Caíque após internamento, não conseguiu retornar ao trabalho por causa das sequelas físicas e emocionais da doença, conseguindo suporte para o período através Instituto Nacional do Seguro Social, relata que esse período foi necessário para sua recuperação.

“Então, depois de um mês dessa... desse período é... além de tudo eu também não tava, por conta do trauma também eu não conseguia... tava conseguindo voltar pra empresa que eu trabalhava na época, né, eu sou publicitário né, como eu já falei e eu tava sem conseguir, não tinha psicológico pra trabalhar, não tinha psicológico nenhum. Psicologicamente, fisicamente, tudo isso, tava muito abalado, e aí eu dei entrada no INSS, me afastei pelo INSS, fiquei seis meses afastado, e aí eu fiquei de abril até novembro também, fiz foi seis meses e aí, que foi justamente esse período que eu fiz tudo né, que eu tava fazendo tudo, que foi esse período pra me readaptar, pra voltar a minha normalidade que era antes, então foi basicamente esses seis meses que eu tive pra me recuperar, né."

 

As implicações da doença na vida financeira e no trabalho foram diversificadas, Renata dentro deste contexto de beneficiários do Instituto Nacional do Seguro Social, já nos relata que não foi atendida dentro das suas necessidades financeiras e por isso precisou de ajuda financeira de familiares para complementar os custos e que precisou retornar ao trabalho mesmo não estando recuperada totalmente: 

“Terrível. Primeiro que eu nunca tinha vivido isso. Então, fui buscar as informações com medo. Como eu já tinha mais de quinze dias, eu disse que tinha que me encostar mesmo. E aí, eu tive que correr atrás, levar os documentos, esperar o INSS. Com medo do que iria receber, se ia suprir minha necessidade. Que, de fato, no início não teve. Eu tive que... a família teve que entrar. Me desestabilizou financeiramente, completamente assim. E antes mesmo de ficar totalmente boa pra voltar, eu precisei voltar. Eu disse: "não tem condições, não dá pra ficar parada recebendo do INSS". E aí, eu tive que voltar antes mesmo de ficar 100%.”

Situações tortuosas com relação ao empregador também apareceu, Angela relata enfrentar dificuldades no seu trabalho ocasionadas pelas sequelas do adoecimento, aponta que o cansaço, dificuldade de respirar, repercutiu negativamente no que tange seus empregadores, conta que passou a sofrer rotatividade no ambiente de trabalho, atribuindo essas mudanças a dificuldade de realizar as atividades por causa das sequelas citadas. “Eu fiquei chateada, olhe meu cabelo caiu muito, eu não vou mentir, tô com problema de depressão muito sério, essa semana mesmo, segunda eu fui pro trabalho chego lá a diretora tinha me devolvido, ai fui pra outro local chego lá me devolveram, eu acho que pelo fatos deles saberem desse problema meu de cansaço ai ta dificultando muito meu trabalho. E esse local agora que eles me colocaram, sei que não vou ficar muito tempo não, porque o trabalho lá é muito puxado, e eu não consigo. Ei fico sentindo muita falta de ar, é muito cansativo.”  

 

Percebe-se que cada entrevistado em suas particularidades, teve que lidar com a volta ao trabalho, com os déficits financeiros. Alguns se recuperaram clinicamente mais rápido e logo voltaram ao trabalho. Outros demoraram meses até que pudessem voltar. Financeiramente, foi muito diverso as complicações e a resolutividade de cada um, mas é evidenciado pelos relatos que a maioria dos participantes contou como suporte com uma rede de apoio para enfrentar as repercussões no trabalho e financeira que tiveram causado pelo adoecimento.