Informações sobre a COVID-19

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A pandemia da COVID-19 foi marcada por grande curiosidade e atenção voltadas à doença por parte da população e da mídia, uma vez que se tratava de uma nova patologia surgindo, que até mesmo os próprios profissionais de saúde tiveram dificuldade para entender e formular condutas eficazes para combatê-la. Dessa forma, durante os primeiros meses de lockdown, a televisão foi inundada por notícias quase que constantes, que foram positivas para algumas pessoas, pela informação adquirida como relatou Sérgio: “Eu vejo muito Globonews e eles falavam muito sobre covid. Eles ajudaram muito, em tipo de informação, de conhecimento. Eu sei que as informações deles foram úteis, sabe, pela GloboNews que eu via todo dia”, que posteriormente comprovou a veracidade das informações durante sua internação, com relação às condutas médicas e às medidas de prevenção que poderiam ter evitado que ele e outras pessoas ficassem doentes. 

 

Enquanto isso, outros pacientes relataram não ter se sentido bem vendo tantas informações constantemente, como afirmou Michael Douglas: “Não gostava de ver reportagem de COVID-19 porque era só isso: Jornal Nacional, Band, o que fosse não tinha outra coisa a não ser COVID-19, e aquilo querendo ou não me assustava.” Nesse sentido, percebe-se que as informações veiculadas na época, traziam a realidade da doença para perto da população, o que, apesar de ter o intuito de prevenir e alertar acerca do COVID-19, por ter sido feito de forma excessiva, contribuiu também para o desenvolvimento do medo da doença e das possíveis repercussões dela. 

Maria Claudia trouxe outro motivo para não acessar as grandes mídias, a necessidade de sair de casa durante a pandemia para trabalhar: "eu comecei a ver no início muita informação, e aí comecei a ficar muito neurótica. E aí, eu falava 'gente na hora eu tenho que trabalhar com isso e eu não posso...' E eu parei de ver. Eu parei de ver televisão, parei de saber sobre o covid parei, parei total." 

 

Além da televisão, alguns pacientes obtiveram informações a partir de artigos científicos. Percebe-se que a maioria dos pacientes do sistema público, que tiveram acesso a esses meios, eram da área da saúde, como relatou o enfermeiro Carlos Eduardo: “Procurava artigo lá na própria Fiocruz mesmo, pela pandemia. Não tinha atendimento, quase não tinha atendimento, eu lia muito, aquelas coisas, aqueles artigos, menos assim, é uma coisa nova, mas aqui no protocolo assim, procurava ler, já que tá lá aquele bando de pesquisa. Um monte de coisa que eles fazem, aí eu ficava lendo aqueles artigos e ajuda muito.” Outros pacientes que não trabalhavam na área, obtiveram informações com amigos médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde. 

 

Entre os pacientes do sistema privado esse perfil se mantém, com o diferencial de haver mais acesso a profissionais particulares que forneciam informações e uma maior busca por artigos e fontes além da grande mídia. Um exemplo disso, é a experiência de Margareth, que teve um comitê de profissionais para orientar seu grupo da igreja durante a pandemia. "Então, o que o pastor da nossa igreja fez, ele reuniu um grupo de profissionais da área de saúde, principalmente infectologistas para nos assessorar. Então esse grupo de profissionais da saúde passou muitas informações para gente, atualizações, nos ajudou a olhar a questão da igreja, quantos por cento [das pessoas]  poderiam se reunir, quando poderia, então nós fomos bem informados por profissionais de saúde. E a gente tinha no grupo um político que estava sempre atento às determinações do governo." 

 

Mesmo nos artigos científicos, por ser uma doença recente, havia contradição e informações incompletas, como relatou Fabrício: “Realmente eu procurava muito, eu tenho  amigos que trabalham na área de saúde e procuravam informações, mas informações meio contraditórias. Até mesmo porque não tinham muito fundamento as informações, na verdade porque era algo novo na face da terra, então pra gente pior, porque os recursos  eram pouquíssimos. Então, as informações eram muito escassas, em termos de eficiência. Você tinha as informações, mas não era eficiente.” Dessa forma, nota-se que, durante a pandemia, a velocidade da produção de artigos bem validados e de tratamentos eficazes, pelas numerosas etapas demandadas para esse fim, não acompanhava o ritmo acelerado de crescimento do número de casos e a preocupação com a doença cada vez maior para a população e para as mídias, as quais demandavam respostas imediatas. 

 

Sendo assim, por falta de informações precisas, ocorreu disseminação de notícias e protocolos sem fundamento científico, decorrentes de estudos incompletos e de condutas baseadas apenas na prática. Sobre isso, Ademir comentou: “Pandemia dessa, e eu via médico falar que estava tratando paciente precocemente. E depois morria. Aí eu ficava vendo essas coisas, mas eu gostei de ver, eu tinha o prazer de ver, entendeu? Porque às vezes você fala assim: ‘ah, não vou ver isso aí porque não condiz com a verdade.’ Mas você tem que ver, pra ver de verdade também e ter a consciência de saber, de separar as coisas.” 

 

Essas informações foram adotadas não só por médicos, mas pela população geral também, seja contra ou a favor de tratamentos, como ocorreu com as vacinas, que tiveram sua eficácia questionada, como Reneé contou: “Meu irmão mesmo, na época, lá na Casa Espírita nossa, ele só veio a acreditar após eu ter tido a COVID-19, porque ele não acreditava, achava que era a história política e que isso tudo era uma gripe, que não era… era tudo guerra política, a vacina era dinheiro que estavam querendo jogar em cima de uma experiência, em cima do brasileiro, do mundo.”  

 

Apesar das informações contraditórias sobre o tratamento e a adoção de diferentes posturas de acordo com a linha política/ideológica de cada profissional, Caíque, publicitário, aponta que o fato de ter tido acesso a informações precisas sobre a doença, ao prestar serviço para instituições de saúde, influenciou sua decisão de não utilizar medicações sem eficácia comprovada, mesmo quando isso foi recomendado pelo médico que lhe atendeu. “Na empresa que eu trabalhava, prestava muitos serviços para hospitais e clínicas na parte da área de saúde. Então, sempre tive informativos, eu sempre tava criando informativos, fazendo. Então, eu acabava pegando muita coisa... Se eu não me engano o próprio médico me passou, me receitou... Ivermectina! Eu não tomei, porque eu vi que isso não era, não tava sendo, não tinha nenhuma eficácia e o médico me receitou isso. Mas eu não tomei.”

 

Percebe-se, portanto, que aliado às informações, havia também um viés político associado à doença, que moldou a forma como a população aceitava e disseminava os protocolos propostos. Nesse sentido, Augusto comparou as informações que ele mesmo procurava e confiava com as que sua mãe compartilhava: "Então a gente foi se alimentando de fontes bacanas, entendeu? Diferente, por exemplo, da minha mãe, que vai e vem compartilhava coisas assim. 'Mãe, isso não tem fundamento, mãe, não entra nesse lugar' e sempre vinha com um viés político ideológico, dessa via direita, do presidente. Não que eu seja de esquerda, não. Mas tinha uma coisa muito mais política, ideológica ali do que qualquer outra coisa." 

 

Rosana Karina também aponta o viés político atribuído aos meios de comunicação, sofrendo críticas direcionadas a ela por se informar por meio da rede Globo. “Todo mundo falando, a Globo, eu vou te falar, eu assisto muito a Globo, viu? Eu assisto a Globo, sou 99% Globo… G1, eu leio muito o G1, então assim... sofro muito porque as pessoas me criticam muito por isso... Eles acham que é engano, que ali as pessoas que são contra o presidente, falam muito mal… A gente sabe que nem tudo é 100%, mas a maioria sim, a maioria que falaram pra mim, eu acredito, do que eu via na Globo pra mim 80% foi verdade e aconteceu.”